Carlos Fernando Gomes de Almeida é cirurgião plástico reconhecido, dono de bisturi tão famoso quanto seu senso de humor: é conhecida uma cena em sua casa, na Avenida Atlântica. Quando uma paulista das mais elegantes comentou sobre a cirurgia em seus seios, ele brincou: “Falamos sobre isso depois. Só gosto de peito de mulher com faca na mão”. Esse é só um exemplo de suas tantas tiradas.
Com ele, é sempre essa língua-com-destreza e raciocínio rápido. Muitos, porém, desconhecem seu lado espiritual, fortíssimo. No último aniversário, em outubro de 2018, por exemplo, passado numa viagem religiosa pela Europa, ele disse: “Sou uma pessoa fervorosa. Acredito na verdade, no bem, na justiça — são convicções que a fé me dá”. O Rio tem muitos devotos; no dia de São Jorge (Ogum no candomblé), 21 de abril, é feriado na cidade desde 2001, no entanto, talvez o mais intenso deles seja Carlos Fernando.
De onde vem a sua devoção a São Jorge?
Minha devoção começou na adolescência — minha mãe é muito religiosa. Sou devoto ao ponto de carregar o andor na procissão em Niterói; acompanho-a descalço, já fiz isso várias vezes. Se, no dia dele, estou em qualquer outra cidade que não o Rio, procuro algum lugar onde tenha uma imagem, nem que seja um quadro. Por exemplo, já aconteceu de eu estar em Berlim, pesquisar no Google e descobrir uma imagem no meio de uma praça. Fui lá, me ajoelhei, rezei e voltei pro hotel.
No dia a dia, o que ela traz?
Traz proteção contra o mal, é meu guerreiro. No último réveillon, mandei fazer uma camiseta pra toda a minha família com a estampa de São Jorge na frente e a frase: “Meu guerreiro, cavaleiro, meu amigo e protetor, me guarda, me protege, me salva, sempre por onde eu for”.
Alguma situação específica que você tenha sentido com clareza uma interferência do santo?
Quem é muito devoto, como eu, sempre que pede, dá certo. É uma fé muito forte, e aquele santo é tão íntimo, que quase materializamos aquilo. É uma relação firme e estabelecida. Temos liberdade de pedir tudo.
Na prática, que sentimentos vêm pra você?
Devoção com santo é uma relação de muita intimidade, uma confiança como aquela que temos com pai e mãe.
Quantos símbolos de São Jorge você tem?
Não tenho a menor ideia; devo ter centenas: medalha, santinho, vela, anel, camiseta, estátua…
Já apareceu algum dragão na sua vida?
Vários dragões. Como eu já os conheço há muito tempo, quando estão chegando perto, eu já sinto até o cheiro.
Muitos já passaram pelo seu bisturi?
Não considero os dragões físicos, só os de alma.
Antes de fazer as cirurgias, você pensa em milagres?
Quando a cliente pergunta se vai ficar bom, eu digo que vou fazer tudo com toda a dedicação, com todo o conhecimento, carinho e que vai ficar muito bom; agora, se sair perfeito, aí já é milagre. Perfeito não é comigo — é lá em cima.
O que existe atrás de tudo isso?
Existe fé.