A história de amor do atual coordenador do Paris Saint-Germain, Maxwell Scherrer Cabelino Andrade, e da mulher, Giulia Reverendo Vidal Nagamine Andrade, foi parar na Justiça. Ela alega ter sido violentamente agredida pelo marido, já sabido, mas aqui pela sua própria voz. Max é ex-jogador, tendo passado pelo Cruzeiro, Barcelona, Paris Saint-Germain e pela Seleção Brasileira (2014). Depois de 15 anos de casamento, quatro filhos, muitos sonhos e conquistas, veio o BO registrado no dia 27 de março, em Belo Horizonte, onde Giulia conta vir sofrendo ameaças por todo o relacionamento. Em 2012, segundo a denúncia, ela fraturou dois dedos do pé depois de ter sido agredida por Maxwell.
Em 2015, depois de sofrer ameaças de morte, Giulia foi espancada novamente. No ano passado, ainda segundo o boletim, ele a ameaçou mais uma vez. Foi então que ela pegou os filhos, mudou-se de Paris para a capital mineira e contratou um advogado. O atleta está proibido de se aproximar de Giulia, enviar mensagens ou, até mesmo, ligar para ela. Um inquérito foi aberto pela Polícia Civil para investigar os crimes de lesão corporal, injúria e ameaça.
Maxwell divulgou uma declaração, através de sua assessoria de imprensa, em que diz: “Eu lamento ver como uma pessoa com quem convivi e é a mãe dos meus maravilhosos filhos usar a lei dessa forma. Pelo bem dos meus filhos, provarei minha total inocência e mostrarei que tudo isso é mentira. Pelo respeito à mãe dos meus filhos, eu não vou comentar nada mais sobre esse assunto.”
O casal se conheceu no início dos anos 2000, em São Paulo — ele, jogador recém-contratado pelo Ajax, da Holanda, e ela fazendo especialização em Fisioterapia na mesma clínica onde ele se reabilitava de uma cirurgia no joelho. Começaram a namorar; Giulia logo engravidou e foram morar na Holanda. De lá, a depender da vida profissional dele, instalavam-se em outros países da Europa.
Antes disso, pouco depois do nascimento da 1ª filha, eles subiram ao altar, numa festa que parou a cidade de Giulia, São José do Rio Preto, interior de São Paulo, em 2006; Maxwell é capixaba de Cachoeiro de Itapemirim. No início, mesmo com um bebê em casa, a vida a dois era intensa, lua de mel e juras de amor. Quatro filhos depois — com algumas gestações de risco e três partos prematuros —, segundo Giulia, tudo se transformou — com “agressões em todos os sentidos”. A coluna conversou com ela; o que não está na entrevista corre em segredo de Justiça.
Você foi casada com Maxwell por quanto tempo? Quando começaram as agressões e qual foi a gota d’água?
Foi um total de 15 anos de união. Olhando hoje, de fora da relação há um ano, posso dizer que, nos primeiros anos, eu já notava um comportamento movido por atitudes que eu não deveria ter aceitado, como agressões verbais consequentes de brigas e momentos mais tensos, que foram se intensificando com o tempo. A gota d’água foi um episódio em 2018, em Paris, onde não houve violência física, mas ameaças e humilhações, uma cena pesada.
Consta no BO, registrado no dia 27 de março, em Belo Horizonte, que, em 2012, você fraturou dois dedos do pé depois de uma agressão. Como foi?
Sim. Estava na nossa casa em São José do Rio Preto (interior de SP) e, depois de violenta discussão, durante e depois da minha festa de aniversário, ele me trancou no banheiro, e lá as coisas aconteceram. Discutimos violentamente e tive hematomas nos braços e dedos do pé. Uma das minhas filhas acordou com o barulho e me libertou do banheiro. Depois de fazê-la dormir, vi que eu estava trancada num frio de seis graus fora do quarto. Tive dificuldades de andar e fiquei muito marcada nos braços, mas não procurei ajuda – eu mesma cobri com uma faixa para que ninguém visse e perguntasse. Não fui a nenhum hospital, mas, sendo fisioterapeuta, sei que tive lesões sugestivas de fratura. Não posso falar mais, por orientação do meu advogado, para não prejudicar as investigações, já que o depoimento mais detalhado disso eu ainda não dei.
O que fez você continuar com ele e por que não tomou essa decisão lá atrás?
Nessa época, eu já tinha três dos quatro filhos. Quando vivemos uma relação e passamos por problemas, não temos a dimensão daquilo tudo que está acontecendo. Eu morava sozinha com minha família fora do País, estava longe da minha família original, dos meus amigos e, à medida que as discussões se tornaram mais tensas, minha tolerância foi aumentando, com paciência para lidar com tudo aquilo, porque a gente vai se moldando. Quando se gosta, não se pensa em separação, se pensa em fazer o possível para melhorar, mudar, mas continuar junto. A presença de filhos, a rotina agitada de viagens dele, a rotina de atividades das crianças… Eu, sempre fui envolvida 100% com tudo, fazia com que os dias passassem rapidamente e a digestão de tudo também. Os filhos têm o poder de mudar seu foco, fazer perder a noção do tempo e o peso dos problemas. E teve também a presença constante da bebida, que dava equivocadamente uma falsa sensação de “desculpa” para justificar a atitude dele, como se ele estivesse sóbrio, nunca isso teria acontecido. Existia um conflito de sentimentos estranhos.
Três anos depois (2015), consta que você sofreu ameaças de morte e foi espancada numa viagem em Miami. Qual a primeira coisa que te vem à cabeça, quando lembra dessas cenas?
A fisionomia dele ao me olhar pesado, o perfume, o barulho que escutei quando caí no chão… Estávamos numa casa alugada em Miami. Depois de uma semana muito tensa, depois de voltarmos de um jantar para comemorar o meu aniversário (novamente na data), ele já estava bem alcoolizado. Durante a semana, eu estava evitando contato para não ter problemas, mas sabia que algo aconteceria. Voltamos do restaurante e todos estavam tensos. Eu sinalizei que subiria quando eu tivesse a certeza de que ele estaria dormindo e esperei até o último momento. Peguei meu celular que estava carregando e subi, mas, ao entrar no quarto, ele já veio me agredindo e me jogou para fora, onde eu voei por muitos metros. Foi tudo muito rápido. Ele se trancou no quarto, e meus amigos vieram me socorrer, pois ouviram os gritos. No dia seguinte, ele foi embora para o Brasil e fez uma viagem com seu irmão para Barra Grande. Decidi seguir viagem com meus filhos para que não percebessem nada… Ficamos separados por 40 dias, quando retornei para a França para ver como seguir com essa situação e porque iria começar as aulas, mas logo descobri que estava grávida do meu quarto filho, João Vitor.
Ele diz que vai provar a inocência. Existe essa possibilidade?
Tudo que eu disse está devidamente mostrado no processo, através de provas. Ele tem todo o direito de se defender.
Acredita que os inúmeros casos de abuso, agressões contra mulheres influenciaram sua decisão em denunciar?
Com certeza. Assim como tenho recebido muitas mensagens de mulheres que passam e passaram pela mesma situação e ainda não denunciaram, e outras que denunciaram escrevem contando como estão. Acho que tudo isso ajuda; a troca de informações e o acesso hoje são muito maiores. Barreiras foram ultrapassadas e tabus, vencidos. Não existe mais vergonha ao se falar sobre isso, o que acaba encorajando também. Isso e mais as ameaças que continuaram acontecendo, as humilhações e xingamentos me fizeram denunciar.
Você destaca algumas passagens com as quatro crianças? Quais? Como tem sido pra eles?
A proibição ao acesso à casa que temos em minha cidade, São Jose do Rio Preto (interior de SP), onde de lá desapareceram minhas coisas pessoais e das crianças. Ali estava tudo meu, uma história de 15 anos, coisas que para mim valem muito mais do que qualquer dinheiro. E quando voltamos do Ano Novo, tive a notícia de que o pagamento do hotel havia sido cancelado e que ou teria que me sustentar ali, ou não poderiam renovar a hospedagem. Estava com R$ 4 mil na carteira, entrei no Airbnb para procurar um apartamento e encontrei um de 37 metros quadrados, com dois quartos, por R$ 1.880, bem bonitinho! Aluguei e, no dia seguinte, fui com nossas malas pra lá. Ao chegar ao endereço, o apto. era quase na esquina da entrada de uma comunidade aqui em BH conhecida como Morro do Papagaio. Estávamos a três prédios da entrada da favela. Fiquei por uns dias até uma amiga me tirar de lá e nos acomodar em sua casa. Qualquer divórcio é difícil para os filhos, ainda mais passando por isso. Mas eles estão enfrentando sem drama, com muita conversa e uma boa compreensão do momento e de cada situação vivida. Estão passando por privações, quase que diariamente, há um ano, mas sairão ainda mais fortes. Infelizmente não podemos planejar tudo, e a vida nos coloca em situações difíceis, e se estamos vivendo é porque podemos superá-las.
Como era e como está sua vida hoje?
Não posso dizer que só vivi momentos ruins. Tivemos bons momentos como qualquer casal, mas foram os ruins que nos separaram. Estou tentando me reconstruir, já que muito me foi tirado ou perdido. Saímos de Paris, de uma vida luxuosa, e ainda não tenho casa para morar. Saí literalmente com a roupa do corpo, já que não recuperei as minhas coisas e dos meus filhos. Há 15 anos, larguei minha vida aqui no Brasil, recém-formada, para ir embora com ele. Tem determinadas coisas que só consigo enxergar o impacto hoje. Tive três gravidezes de alto risco, dores insuportáveis, partos prematuros e filhos na UTI — meu João quase morreu. Tenho tendência a minimizar a intensidade dos problemas para viver melhor, mas confesso que dessa vez estou vivendo intensamente.
Como está sobrevivendo?
Ele tem feito aportes mensais, mas não no valor integral da pensão determinada pelo juiz – um valor determinado por ele, o que inviabiliza a minha vida, aluguel de algum imóvel que eu possa morar com meus filhos, mas não vinha mantendo os mesmos valores; deposita valores referentes às mensalidades das escolas das crianças. Eu, desde o início deste ano, tenho vendido objetos pessoais para me socorrer quando preciso, além da ajuda dos pais quando eu peço. Como mãe, sou íntegra; meus filhos me dão o que preciso, inclusive segurança. Estou tentando me reconstruir, recuperar a esperança, a confiança, coragem e interesse. Estou me conhecendo novamente, estabelecendo novos limites. Ainda descobrindo coisas e sentimentos que talvez nem lembrasse mais. Meu coração já não parece mais sair pela boca e minha boca já não formiga como antes, quando falo dessas situações. Tento recuperar minha autoestima e, muitas vezes, ainda não me sinto capaz de olhar no espelho e me achar bonita. Mas sei que devagar as coisas vão voltar ao normal e que viver esse processo é importante, sem pular etapas, para assegurar de que ele será superado.
Qual a mensagem que você deixaria para uma mulher que está sofrendo o mesmo? Aliás, como saber que você está num relacionamento abusivo?
Diria para jamais aceitar o primeiro grito. Numa relação saudável, não há gritos, mas diálogo civilizado, respeito. Que entendam que a mão que bate não pode ser nunca a mesma que abraça, que protege, que ampara. Existe privacidade para ser respeitada e respeito para ser praticado. Mexer em celulares, investigar mensagens, invadir e-mails, bloquear acessos a redes sociais, ciúme excessivo, seja por qual motivo for, palavras que te diminuem, controlar sua liberdade, sua individualidade, suas amizades, ter sua coragem tomada pela insegurança, enfim, acho que todo relacionamento no qual você não tem liberdade de ser quem você é, é abusivo!