Antônio Grassi, diretor-executivo do Instituto Inhotim, estava de férias em Lisboa, Portugal, quando recebeu a notícia do rompimento da Barragem 1 da Mina do Córrego do Feijão, da Vale, em Brumadinho, no último dia 25. De lá, acompanhou tudo como podia e, por precaução, pediu que todos fossem para lugares seguros, mesmo estando a 22 quilômetros fora do curso do rio de rejeitos. Depois de 12 dias da tragédia, o museu ao ar livre, conhecido mundialmente pela coleção de arte contemporânea, vai reabrir suas portas neste sábado (09/02) e prestar homenagem às vítimas, convidando os visitantes a fazer um minuto de silêncio.
Inhotim tem 600 funcionários, diretos e indiretos e, segundo Grassi, mais ou menos 80% deles têm parentes vítimas da lama. Grassi, mineiro, ator (assumiu a direção do Inhotim em 2013), foi também secretário de Cultura do Rio e da Funarte. Ele está ainda completamente de luto. Claro!
Estava decidido não reabrir Inhotim por enquanto; agora, você decidiu pela reabertura. Qual a razão da mudança?
Resolvemos reabrir o Inhotim no próximo sábado (09/02). Um movimento que, para nós, não foi muito simples de fazer porque tínhamos resolvido ficar fechado durante esses momentos, em respeito e luto pela cidade e a tragédia que tem em volta. Agora, realmente, decidimos pela abertura. Embora o Inhotim não tenha sofrido nenhum impacto em relação a isso – fora os parentes de nossos funcionários, que estão aqui conosco – a gente acha que é muito importante trabalhar nessa perspectiva, por achar que é nosso papel injetar esperança de reconstrução e vida onde aparentemente não teria mais, nesse lugar tão destruído. Esse é o grande papel do Inhotim: fazer o futuro desse lugar aqui.
Vai ter algum evento especial na reabertura?
No sábado (09/02), vamos fazer não só uma homenagem às vítimas, mas também a todos aqueles que trabalharam ou têm trabalhado tanto no Inhotim como no salvamento e na procura por esses corpos. As pessoas têm se dedicado muito a esse trabalho.
Quais são as prioridades agora?
A nossa prioridade foi trabalhar exatamente nossos funcionários, dar apoio, um ombro amigo neste momento. Temos mais de 600 funcionários, e a maioria mora em Brumadinho. Inhotim tem um papel importante tanto na vida dessas pessoas como na região, no Brasil, no mundo. A nossa importância é muito grande, o que foi construído nesses anos todos.
E os próximos passos?
Nos organizarmos para a reabertura, o que pode dar um fôlego, um gás pro pessoal e para as pessoas que vivem ali em volta. Os nossos projetos educativos na área social são todos muito relevantes também, além da própria importância do Inhotim em si, que não foi atingido em nada. Os acessos pelas entradas estão totalmente liberados por dentro da cidade, e agora a nossa ideia é retomar a vida. Participar ativamente na área artística e social, entendo que, neste momento, isso é o fundamental.
Tem algum projeto imediato?
Além do acervo artístico, temos a parte botânica, um banco de sementes para ajudar na recuperação das áreas comprometidas pela terra metálica (o Jardim Botânico Inhotim tem um acervo de aproximadamente cinco mil espécies, o que representa mais de 28% das famílias botânicas do mundo). Com isso, podemos levar luz e esperança para aquela região e participar ativamente na reconstrução tanto da flora quanto da área artística, educativa e social.
Foto: Rossana Magri/Divulgação