A história do ódio é tão antiga como a humanidade; ela precede a história do amor. Os primeiros relatos bíblicos já descrevem luta fratricida, homicídio, expulsão, exílio, escravidão, preconceitos diversos, fúria incontrolável. A atualidade não foge a esse quadro primitivo. As mesmas coisas continuam acontecendo e, de sobremaneira, parece que existe um acirramento na política.
Obviamente que o sucesso eleitoral de um grupo corresponde ao insucesso do concorrente. O que deveria ser uma boa oportunidade para fazer a crítica do fracasso, ao contrário, se torna motivo de ataques ressentidos incessantes e que não beneficiam ninguém.
Ofensas de um grupo a outro são diariamente veiculado pela mídia com inconfessa satisfação de militantes derrotados. Essas ofensas não tem nada a ver com a necessária crítica ao que poderia ser o dogmatismo partidário dos políticos, muito menos com as teorias econômicas aplicadas por quem está no poder. Para o ódio, pouco importa se algo funciona e se o país pode melhorar. Trata-se do ódio em estado puro e sem nenhum fundamento além da negação da realidade histórica — o que não deixa de ser uma forma de enlouquecimento.
As teorias conspiratórias típicas dos quadros paranoicos vicejam em todo canto, como crenças ferozes. Como psicanalista, penso que jamais devo silenciar quanto à alucinose e seu cortejo de danos éticos que ameaçam as condições do debate crítico. Não é sem razão que a desonestidade está profundamente arraigada em nossa cultura.
A panfletagem das redes sociais incita o ódio não apenas a todos os saberes constituídos; faz coro com a mídia oficial. Ambos os setores acreditam ingenuamente que um problema parece mais fácil de resolver se for considerado como problema moral.
Como psicanalista, devo denunciar que esse ódio é vergonhosamente antidemocrático e ameaça a todos os saberes constituídos, mas, sobretudo, ameaça o pensamento e a humanidade que dele advêm.
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