Excepcionalmente adiantamos a coluna do psicanalista Arnaldo Chuster, publicada no site às terças, pelo calor do momento.
Meu professor de Psiquiatria, o glorioso Eustáquio Portella Nunes, costumava ilustrar os quadros psicopatológicos com um humor e uma sagacidade que lhe eram absolutamente particulares. Em poucas e agudas palavras, conseguia explanar situações clínicas de forma brilhante; com isso, deixava lições indeléveis. Certa vez — lembro-me bem como se fosse hoje —, referiu-se aos quadros de sadomasoquismo com a seguinte pérola: um casal coloca a cama na varanda do apartamento para todos os vizinhos verem, e se estapeiam mutuamente. Os alunos se acabaram de tanto rir. Ele acrescentava ao quadro sadomasoquista o componente nunca ausente de exibicionismo. Pautados pelas mentiras, os quadros sadomasoquistas precisam de plateia. Essas palavras me vieram à cabeça diante do episódio que ocupa os corações e mentes dos brasileiros.
O jogador Neymar, até então alçado à posição de herói do futebol, envolve-se com uma mulher e fazem exatamente isto: colocam a cama na varanda, para todos verem, e saem no tapa. Não bastando o escândalo cafona, digno de compaixão pela falta de caráter, encenam uma peça digna de Nelson Rodrigues (“Bonitinha mas ordinária”, “A dama do lotação”), com todos os elementos mais obtusos e fantásticos. Foi como se tivessem decidido fazer a nação de otária.
Eu não consigo imaginar uma moça que se diz “modelo”, e vai especificamente se encontrar com o jogador com finalidade confessa de ter uma relação sexual, sem ao menos levar um preservativo. Acaso, ela não desconfia que ele pode ser um indivíduo sexualmente promíscuo? E ele próprio, Neymar, não sabe que uma moça que se dispõe a aceitar que ele pague a passagem para Paris, e outras coisas, simplesmente por uma relação sexual, não deve ser alvo de algum cuidado com preservativo? O mar de hoje está cheio de tubarões virais. Suspeito que, como em muitas relações virtuais, falta bastante a capacidade para amar; não se chegou nem perto de qualquer amor. Lamento. Um tratamento psicanalítico poderia ajudar ambos a não caírem e se machucarem tanto. Essa é a experiência que, como psicanalista, posso indicar. No mais, ora ouvir estrelas…
Foto: Reprodução redes sociais