Kika Gama Lobo é a imagem da carioca que se vira, em tudo, das emoções aos boletos. Foi assessora de imprensa, atuando por 30 anos com atendimento dos clientes franceses no Rio. Só para Louis Vuitton, trabalhou 17 anos, e logo vieram Cartier, Armani, Tommy Hilfiger, Hugo Boss, dentre outros… Hoje, trabalha com o comercial da área de comunicação de algumas agências, além de tocar seu projeto pessoal mais cheio de propósito (perdão pela palavra tão cansada): o canal de YouTube Atitude50.
Está, também, rodando as capitais brasileiras com a escritora sulista Martha Medeiros, com um programa de entrevistas. Suas postagens sobre o Rio, nas redes sociais, muitas vezes chegam a ser desconcertantes, mas sempre verdadeiras com aquilo que muitos pensam e poucos falam.
Outrora criticada pelos termos que cria, ganhou adesão surpreendente com suas postagens ácidas. E é exatamente por essa razão que ela está hoje, aqui: “Chega de esperar um dia melhorar. Quero campanhas de incentivo a bons modos. Quero, ao invés de cantar o hino, quero obrigação para todos jogarem lixo no lixo; quero moradores agentes. Eu quero um líder para novos e bons combates. O Rio tá uma merda. Irmãs no Leme. Homens boiando. Carros soterrados. Mar de lama. Mar de merda”, diz.
E o Crivella?
Eu quero outra cidade. Eu quero outro prefeito. Eu quero outro governador. Eu quero uma nova cidade. Estou de luto total. Eu quero mais cidadania. Eu quero moradores mais conscientes. Eu quero uma revolução de protocolos. Quero paz, saúde, educação… Não quero aplaudir pôr do sol. Fora todos que não somam. Pagar de evangélico e fazer o egípcio para tudo o que é humano e urgente é crime religioso. Devia usar sua fé para compartilhar, e não para assustar a população com suas trapalhadas.
O carioca precisa de quê?
Precisa de autoeducação, espírito cívico e ser solidário quando tudo está bem. Temos uma capacidade imensa de ajudar o outro nas tragédias, mas é na calmaria que devemos nos organizar. Menos corrupção e milícia e mais atitude e protagonismo. Coisas básicas: bom dia, boa tarde e boa noite. Recolher seu lixo diariamente. Pressionar por melhores serviços. Valorizar o guarda de trânsito, o gari, o padre, o professor, não importa sua ideologia. Ser pontual e dar o melhor de si em tudo o que faz. Abandonar a lei do Gerson e o glamour da marginalidade e ser proativo e correto. Se fôssemos contaminados com essa dengue positiva, já seríamos outra nação carioca. Chega de esperar um dia melhorar. Quero campanhas de incentivo a bons modos. Quero, ao invés de cantar o hino, quero obrigação para todos jogarem lixo no lixo; quero moradores agentes. Eu quero um líder para novos e bons combates. O Rio tá uma merda. Irmãs no Leme. Homens boiando. Carros soterrados. Mar de lama. Mar de merda.
Samba, suor, cerveja?
Nada contra, mas é essa malemolência que não dá mais ibope. Sou contra seguir um líder — estilo soviético — em uma praça radical, com cidadãos soldadinhos de chumbo. Mas numa coisa esse governo milico tem razão: ordem gera progresso, e jamais achei que fosse gostar mais do estilo do tal Mourão. Mais sensato que o capitão. E, by the way, o que é Damares?
E a corrupção?
Corrupção mata. E não é porque o Cabral está preso que tudo melhorou. Ele personifica o rombo do estado, mas a farra continua. Precisamos de mais Moros de olho em tudo: desde o beiço no troco que negamos até o jeitinho que damos em nos dar bem. Chega de propina em tudo. Devemos ser algozes do mal.
Na sua opinião, o Rio tem jeito?
Super tem, mas depende de uma profunda reflexão do mal que nos fazemos em ser coniventes com o ruim. Merda muitas vezes somos nós, que incensamos práticas erradas e queremos lucrar a qualquer preço. Deixando o carioca usar sua criatividade, molejo, sorriso, sensualidade e alegria para o bem comum, avançaremos várias casas. E que o espírito da Marielle faça nascer no miolo da nação carioca um novo líder cheio de atitude e poder para limpar a Assembleia Legislativa dos fósseis humanos e perversos da política fluminense. Tô supermelancólica. Tô no maior baixo-astral. Que cidade abandonada! Bora tomar o Rio nas mãos?
Violência gera violência?
Pena que o profeta Gentileza não tenha ganhado essa parada. Os 80 tiros no cidadão de bem, as muitas balas perdidas, os estupros, facadas, tapas e surras são pano de fundo de um cartão-postal crivado de balas. Estamos anestesiados. Morremos a cada dia, com tantas chagas. Não sou a favor do armamento de civis, mas precisamos agir. E rápido, senão é melhor já escolher a frase de nosso epitáfio.