João de Orleans e Bragança tem sido voz firme entre os revoltados com o incêndio que destruiu o Museu Nacional no dia 2 de setembro. Se dói tanto para qualquer brasileiro, imagina para alguém que, como ele, tinha ali parte da história da própria família: João é bisneto da Princesa Isabel e trineto do Imperador Dom Pedro II. Tanto alguns amigos quanto sua mulher, a artista plástica Cláudia Melli, perceberam sua tristeza, que só piora desde a tragédia. Da podridão na política, o príncipe-Dom-Joãozinho vem falando há muito tempo – em entrevista ao site ano passado, isso ficou claro. E não mudou: ele compara os partidos políticos a facções criminosas, como você pode ler na entrevista.
O que passa pela sua cabeça agora, alguns dias depois do incêndio que destruiu o Museu Nacional?
Passa pela minha cabeça que, recentemente, vimos um exemplo do colapso da gestão pública nas cinzas do Museu Nacional. A tragédia no museu é mais um resultado do saque que as classes dirigentes, da esquerda e da direita, fazem no Brasil, sem pensar em um projeto de Nação.
Como assim?
Os partidos políticos mais parecem facções criminosas do tráfico: para dominar um crime comum, fazem qualquer acordo. Vão aonde tem mais dinheiro para acesso ao poder. A maioria desse políticos merecia ser extirpada. PT e PMDB, agora, são aliados em vários estados; estamos nas mãos dessa classe. O que esperar?
Você se sente seguro em doar objetos importantes da sua família (a Família Imperial Brasileira) como contribuição para reerguer um novo Museu Nacional?
Doar jamais. Vou emprestar, e só se tiver todas as garantias de segurança.
Você teve algum retorno depois de dar essa declaração na TV?
Na minha página no Facebook, a maioria foi contra quando postei. Mas a proposta está de pé, por exemplo, um quadro de Dom Pedro II que está na Pinacoteca de São Paulo; coleção de fotos de Pedro II que está no Instituto Moreira Salles; a mesa onde foi assinada a Lei Áurea. Tenho também muitas peças no Museu Imperial de Petrópolis. Acho que o nosso dever histórico é estar presente e servir ao País sempre.
O que seus antepassados estariam sentindo agora?
Estariam chocados com o perfil dos homens públicos, que não são dignos de ser chamados assim. Minha revolta vai além da tragédia do museu. O fogo é o efeito; a causa são as estruturas políticas depravadas que, como eu disse, mais parecem facções criminosas.
E a você, o que mais choca?
O descaso com o Brasil: saúde negligenciada, educação vergonhosa, crianças sem teto, enquanto os salários no setor público são 10 vezes maiores que no privado. Não há país que resista! Considero a maioria dos políticos um câncer pro Brasil. Nosso país está em escombros.
O que era mais insubstituível ali?
São 20 milhões de itens, entre eles, gravações de línguas indígenas que se extinguiram, arquivos de cartas da Leopoldina, minha tataravó, e a sua coleção de mineralogia; objetos etruscos trocados pela imperatriz; vasos, afrescos de dois, três mil anos – é muita coisa que não tem preço. Estou tão revoltado, revolta profunda mesmo. Isso se reflete no Brasil inteiro com estádios de futebol, pontes do nada a lugar nenhum, o caos na Previdência. O País está em cinzas, estou muito triste. E o pior: esses candidatos estão trazendo tudo do mesmo.
Existem muito mais objetos de interesse nacional com outros parentes. Você chegou a conversar com eles para emprestar também?
Já propus isso, mas vai depender de cada um.
Foto: Andréa Graiz/Agência RBS