Leonardo Rezende tem cinco restaurantes em Ipanema, todos quase sempre com espera: Spicy Fish (recém- inaugurado), Pici, Oia, L’ Atelier Mimolette e Posì. Ele praticamente ocupou o bairro — rsrsrs! Muitos ficam curiosos por todos darem certo, digamos assim. Recentemente um frequentador que atua na mesma área brincou ao ver a fila na porta de um deles: ele faz tudo que eu queria fazer. Que tal?
Leonardo participa de todas as etapas: do menu ao serviço de salão, da decoração à trilha sonora. Os primeiros passos no setor foram como sócio da rede Botequim Informal, que chegou a ter 16 endereços na cidade. Participou da produção da Casa Jamaica, nas Olimpíadas de 2016, que esteve entre as mais bacanas. Em 2019, ganhou o prêmio “Empreendedor da Gastronomia”, o que lhe trouxe ainda mais entusiasmo.
Por ser de origem italiana, sempre voltava com muitas ideias das viagens que fazia a Roma, para visitar a família; até que, em 2016, inaugurou a Pici Trattoria, na Praça Nossa Senhora da Paz. De lá pra cá, vieram restaurantes de diferentes estilos culinários, mostrando versatilidade… E não param de vir. O empresário tem ainda o Roi Méditerranée, em São Paulo.
A pandemia ainda nem acabou. Não é corajoso inaugurar mais um restaurante? O Spicy é seu maior investimento?
Não considero uma atitude corajosa porque talvez soe como impensado ou imprudente. É um investimento feito na base do estudo e análise, por quem acredita na cidade e compreende suas demandas. Faz parte de um processo que começou em 2016, quando inaugurei o Pici Trattoria. Depois veio o L’Atelier Mimolette, Oia Mediterrâneo e o Posì Mozza & Mare. A chegada do Spicy Fish coroa esse movimento de ocupação de Ipanema, e estou extremamente satisfeito com o resultado.
Qual a primeira pergunta que vem à sua cabeça, quando decide abrir um novo restaurante? Por onde você começa e como sabe que vai dar certo?
Normalmente, minhas inspirações surgem em viagens. Foi assim com o Spicy Fish. Uma ‘Ásia tropical’ inspirada num pôr do sol em Bali foi o ponto de partida para a concepção dessa nova empreitada. Uma casa cosmopolita, tendo como referência grandes asiáticos de Londres, Nova York, agora no coração de Ipanema. Sobre dar certo, acredito na experiência de mercado, afinal, são mais de 20 anos trabalhando com gastronomia no Rio, sempre cercado de bons profissionais que fazem a operação funcionar no dia a dia.
Tenho notado que os investimentos estão ficando mais altos no setor e, por suposição, os empresários estão confiantes mesmo numa retomada. Acredita que vá existir um boom pós-pandemia?
Sim, ele existe e está acontecendo aos poucos. Com novas demandas e necessidades específicas, compreensíveis por conta do momento complexo que estamos vivendo no mundo inteiro.
Muitos bares e restaurantes fecharam na pandemia, talvez, negócios bem menores que o seu. Mas, além de tudo, houve prejuízo? O que foi mais difícil nesse período como carioca e como empresário?
Sim, houve prejuízo. Fechamos as portas de um dia para o outro, sem que fosse possível planejar, escoar a mercadoria e organizar as casas para viverem uma nova fase. Os primeiros meses foram pautados pelas incertezas e adaptações exigidas e tão necessárias. Agora, já existe mais clareza do cenário e compreensão de que algumas coisas vieram para ficar, como o delivery e os espaços ao ar livre. Como carioca, o mais difícil foi ver casas tão tradicionais fecharem. Restaurantes fazem parte do patrimônio cultural de uma cidade; então, quando uma casa fecha, se finda também um pouco da história do Rio.
O que mais o atingiu na pandemia e o que diria a outros restaurateurs?
As incertezas do início da pandemia me causaram preocupação; o mundo estava tentando entender como agir. Mas hoje, um ano e meio depois, digo que temos um futuro promissor, cheio de possibilidades!
Já temos visto por aí restaurantes e bares lotados… O que mudou no comportamento de quem anda saindo, recentemente? Um dos seus restaurantes estava lotado às 7, 8, 9 e, às 10, vazio. Perguntado, um dos garçons disse que tem sido assim, as pessoas saem mais cedo…. Que mais você percebe no comportamento dos cariocas trazido pela pandemia?
Muita gente permanece em home office; isso otimiza o tempo delas. Não se perdem mais horas de deslocamento, indo e voltando do trabalho. Então, um jantar entre amigos, que era marcado para depois do expediente, normalmente começava 21h. Hoje muita gente consegue se reunir às 19h, às 20h.
Essa liberdade de dispor das calçadas foi uma alegria pra você? Veio para ficar?
Uma grande conquista! Nada é mais a cara do Rio que mesas na calçada, num clima leve, descontraído. Andar por Ipanema e observar as calçadas, abrigando famílias e amigos, me traz uma sensação de dever cumprido, sabe? Vejo a Praça Nossa Senhora da Paz ocupada, com gente respirando a atmosfera desse bairro cheio de história. Pessoas dão vida aos bairros, e Ipanema transborda isso.
O que é imperdoável num restaurante?
Comida e atendimento ruins. Quando visito um restaurante, busco um momento de descontração, divertimento. Entendendo que os clientes que frequentam os meus restaurantes procuram o mesmo. Entregar para as pessoas uma boa experiência é fundamental.
SP X Rio. Qual a praça mais complicada, ou isso não existe pra você?
Não acho que exista uma mais complicada que a outra, mas são diferentes. Cidades diferentes, pessoas diferentes, turistas diferentes. É preciso acolher suas especificidades e garantir um bom serviço pautado nisso.
Você pensa nas estrelas do Guia Michelin?
O Guia já anunciou que, este ano, não haverá avaliações e estrelas no Brasil – uma notícia muito triste para quem trabalha com gastronomia. Mas acho importante lembrar que o Pici Trattoria é Bib Gourmand Michelin.
Foto: Fabio Seixo