O que seria a quarentena sem livros? Marcus Gasparian não quer nem pensar nisso. O dono da Livraria Argumento (fechou a Barra; agora é só Leblon) dedica sua vida principalmente a eles. Dentro do normal atual, chamado por ele de “pesadelo”, Marcus vai pessoalmente entregá-los aos clientes. Fez o mesmo durante o primeiro isolamento, quando disse à Coluna: “Logo que percebemos que teríamos de fechar, dispensamos funcionários, fizemos acordo e tivemos a seguinte ideia: como nossos clientes vão ficar sem livros este período todo? Livro é essencial, principalmente para a pessoa não pirar. Sei que tem série, TV etc., mas muita gente gosta de ler; leitura acalma e dá prazer”. Agora, ele está repetindo exatamente da mesma maneira. Processam os pedidos (Whatsapp — 98494-6112 / 6113 / 6114), e ele sai com o cachorro Gaspar para a distribuição. Os Gasparian sempre foram gente que valoriza a Cultura — antes, durante e depois da pandemia, e é disso que se trata.
Por que você resolveu entregar livros?
Resolvi entregar livros pelo mesmo motivo que me levou a abrir uma livraria: o prazer de levar um bom livro para o leitor. Pode parecer mentira, mas dá um prazer muito grande ver o rosto de satisfação dos clientes. É também pela delícia que é passear pelo Ŕio de Janeiro, com as ruas quase vazias. Programaço!
Desde quando você começou a fazer as entregas e qual a evolução?
Comecei a entregar livros no ano passado, quando tivemos o primeiro fechamento do comércio. Não sei como o prefeito pode classificar academia de ginástica como essencial, e não estender isso às livrarias. Afinal, ficar em casa sem um bom livro é uma loucura.
O quanto os livros vêm ajudando na pandemia?
Recebemos depoimentos muito comoventes de pessoas que estão em isolamento responsável: de como ficam agradecidas de poder contar com um serviço desses e como amam as livrarias de rua; de como os livros as têm ajudado e aos seus filhos a suportar essa clausura. Para nós, toda venda ajuda, pois a situação é dramática.
Os pedidos andam crescendo desde o fechamento mais rígido da cidade?
Os pedidos se estabilizaram desde outubro do ano passado. Claro que, com a loja aberta, ajuda muito. A livraria tem um produto que nenhum site tem: surpresa. Quantos clientes entram em busca de uma biografia e saem com vários outros gêneros que não pensavam em comprar.
Dia 23 de abril é Dia Mundial do Livro. Cite alguns significados da data.
Essa é a mais difícil, mas acho que, apesar de toda a tecnologia existente para ler um texto ou comprar um livro, nada supera a cadeia tradicional desse mercado. Ninguém incentiva mais uma comunidade a ler do que um livreiro, esse profissional que ainda terá o status de um grande chef de cozinha. Nenhum país conseguiu desenvolver-se sem valorizar esses profissionais. Gostaria muito de ver os jovens se rebelarem contra esses grandes conglomerados econômicos/tecnológicos e começarem a prestigiar as livrarias do seu bairro ou comunidade.