Nesta fase da vida em que vivemos, praticamente, em situação de risco, com estresse nas nuvens, comendo sem parar e nadando no álcool em gel, quem não pensa num spa? Todo mundo, certamente. E como diz uma frequentadora assídua de muitos deles: dos anos a gente não tem como se livrar; do peso, sim. Peso aí é bem abrangente: os spas atualmente têm um olhar que vai muito além de quilinhos pra lá ou pra cá. Os cuidados são integrais, digamos assim — corpo e espírito juntos.
Conversamos com as diretoras de Marketing de dois deles, Lorena Trindade, do Rituaali, que fica a 2 horas e meia do Rio, em Penedo, e Francesca Giessmann, do Lapinha, no Paraná — ambos no mais elevado conceito.
É sabido que os spas andam mais lotados. Qual a relação com a pandemia?
Lorena: A necessidade de cuidar do corpo, mente e espiríto. Nunca foi vivenciado um momento tão difícil, as pessoas carecendo de cuidados. Nessa adaptação, são notáveis os problemas com a qualidade do sono, perda ou aumento de apetite, tensão muscular, sensação de esgotamento, sentimento de solidão, ansiedade, e a lista por aí vai. Atuamos com a Medicina de Estilo de Vida e a Medicina Comportamental desde 2016, mas nunca tivemos tanta evidência e procura como neste ano.
A superlotação nos SPAs têm correlação com os fatores que a pandemia causou. E, por se tratar de um local com uma equipe multidisciplinar (médicos, nutricionistas, psicólogos, fisiotepeutas, massoterapeutas, educadores fisícos, enfermeiras), em meio à natureza e com um protocolo rígido de segurança, é um espaço ideal para descansar e reconquistar o equilíbrio. Atualmente, trabalhamos com uma fila de espera com mais de 60 nomes. Desde o início de outubro, só temos disponibilidade para o período do Natal e réveillon.
Francesca: O que temos observado é que as pessoas estão se preocupando mais com a saúde integral e com a imunidade, frente a este cenário de pandemia. No caso da Lapinha, que há 48 anos desenvolve um trabalho que é referência em medicina integrativa, estar com o organismo em equilíbrio é fundamental para a longevidade e também para mantermos o nosso organismo mais forte. Além disso, nossos hóspedes têm relatado muito sobre a necessidade de estarem mais próximos da natureza que, em nosso ponto de vista e segundo estudos científicos, é um pilar fundamental para o bem-estar. Também há o fato de que, em muitos casos, as pessoas estão conseguindo trabalhar mais remotamente, então podem ficar mais tempo na Lapinha, mesmo com as demandas profissionais do dia a dia.
Qual a principal busca atualmente para quem procura um spa? Mudou alguma coisa nesta fase Covid?
Lorena: Com a pandemia, nós tivemos um aumento de clientes que buscam locais menores, com boa infraestrutura e serviços inclusos; também aumentaram os casos de clientes com alto nível de estresse, esgotamento emocional e sobrepeso; percebemos pessoas com o desejo de controlar o consumo de bebida alcoólica, que, durante esse período, aumentou; e, por fim, pessoas com o desejo de um refúgio, em meio à natureza, a poucas horas de carro de suas casas. Esse último, estar entre Rio-São Paulo, mostrou-se um diferencial muito grande pra nós. A conjuntura desses fatores favoreceu muito os Spas, principalmente aqueles que contam com atendimento médico.
Francesca: Muitas pessoas acreditavam antigamente que o spa era apenas um destino para quem buscava emagrecer. No entanto, essa visão já vinha mudando, principalmente no caso da Lapinha, onde temos um trabalho e uma filosofia muito clara sobre o equilíbrio integral do ser – e somos reconhecidos por isso. Muitos dos nossos hóspedes podem até querer eliminar peso, mas sabem que a prioridade é olhar para o todo, a fim de um equilíbrio entre corpo, mente e espírito. Em nossa opinião, o Covid acelerou esse processo de consciência de bem-estar e saúde, que já estava acontecendo, e também essa necessidade da aproximação com a natureza.
Alguma nova adaptação, além dos protocolos sanitários, neste momento em que a gente não pode, digamos, nem respirar em paz?
Lorena: Fomos pioneiros na exigência do teste para Covid dias antes da chegada. Antes da solicitação do exame, é realizada uma avaliação com nossa equipe médica, para entender se podemos receber e qual é a necessidade do cliente. Com essas medidas, nós conseguimos identificar mais de 30 casos de clientes assintomáticos que remarcaram a data pra vir ao Rituaali. Atribuímos essa alta procura à quantidade de indicações e hóspedes recorrentes que já voltaram até três vezes, somente no período de pandemia.
Francesca: Sim. São diversas novas adaptações, mas eu destacaria uma agenda positiva do relacionamento virtual que tivemos a oportunidade de promover, para facilitar que as pessoas cuidem da saúde. Como, por exemplo, a Lapinha Online, nossa plataforma de atendimento médico e nutricional, que era um projeto que estava no papel há dois anos e, com a pandemia, decidimos priorizar e acelerar o desenvolvimento. Foi ao ar em março, e os pacientes estão muito satisfeitos com mais essa facilidade. Também desenvolvemos práticas mais ligadas ao contato com a natureza, como a experiência Mãos na Terra, a yoga a céu aberto, sound healing e diversas outras atividades outdoor.