Nos últimos anos, só se ouve falar em “coach”: de vida, bem-estar, saúde, casais, estudantes, carreira, relacionamentos, e até sexual. A coach de bem-estar e saúde Marie Bendelac Ururahy, francesa que escolheu o Rio para viver há 10 anos, fundou a empresa Be Coaching em 2014, ao lado da psicóloga Wanda Quadra. Ali, a cartela de clientes cresce a toda. “Em momentos atuais, com tantos acontecimentos e tragédias, o coaching é uma ferramenta facilitadora”, diz ela sobre o início de um ano em que ocorreram queda de barreira em Brumadinho, incêndio no CT do Flamengo e o temporal que arrasou o Rio.
O estresse é um dos maiores causadores de ansiedade e depressão? “Nossa natureza é da compaixão e, nesse momento, ela se manifesta através das correntes de solidariedade, não só nas famílias das vítimas, mas também nas empresas, quando tragédias assim acontecem”. Marie destaca a Comunicação Não-Violenta – metodologia criada pelo psicólogo americano Marshall Bertram Rosenberg – como forma de ajudar e dar suporte para lidar com tragédias pessoais. O primeiro passo? Sair do automático, estabelecendo uma comunicação sincera e autêntica consigo mesmo e com os outros.
Por que resolveu largar a administração de empresas e fundar a Be Coaching?
Me apaixonei pelo coaching durante um MBA, em 2011. Nunca mais parei. Fiz 800 horas de curso até hoje, isso são duas pós-graduações (ela cursou, inclusive, o Science of Coaching Psychology em Harvard). Fui executiva por 18 anos e tive missões da Rússia à África do Sul, da Ásia à América Latina e, quando cheguei ao Brasil, queria ter meu próprio negócio. Por motivos pessoais, tive que estudar Psicologia; devorava os livros e tudo o que era de comportamento, daí descobri uma paixão. Cheguei à conclusão que eu queria ajudar as pessoas a viver melhor, trabalhar melhor e aumentar o bem-estar de uma forma geral. Fui ao Google e achei o Coaching. Aí me joguei na primeira formação. Em 2014, abri a empresa e, em 2017, larguei o mundo corporativo.
Sendo francesa, um povo mais frio se comparado ao brasileiro, o que a atraiu para ficar por aqui e trabalhar exatamente com inteligência emocional?
O clima daqui é gostoso, mas o que me fez permanecer foram as pessoas. O francês é muito crítico, muito negativo; o brasileiro é positivo, resiliente e mais cordial, gosta menos de conflito do que os franceses. O brasileiro cuida da relação com o outro; o francês não cuida tanto.
Por que Coaching está tão na moda?
Não sei se está na moda, mas ficou popular. Quando eu comecei, em 2011, tínhamos a impressão de que éramos as únicas do mercado. É uma ciência que te dá ferramentas para obter resultados rápidos. A gente trabalha com foco, objetivo, estrutura – é uma ciência com resultados comprovados.
O que leva as pessoas a procurarem um coach?
A procura maior é o Coaching profissional – as pessoas querem se realizar profissionalmente. A crise do Estado não tem muito a ver com isso; o mais importante para elas é ser feliz no trabalho, mesmo que ganhe menos. Outro motivo são os relacionamentos – afetivo, profissional e geral. É um processo de autoconhecimento. Cada vez mais, a questão financeira fica relativa. Ela não se importa em ganhar menos, mas quer ser feliz.
Existe rixa entre Psicologia e Coaching?
Não se compara banana com batata. A pessoa pode fazer terapia e Coaching, sem problemas, uma trata dos traumas, do passado etc; a outra fala de uma maneira direcionada, focada em metas e objetivos específicos. São propósitos diferentes.
Existe um tempo determinado para o Coahcing?
Um processo básico dura de quatro a seis meses, com sessões semanais. Um mínimo de 10 sessões, mas tudo pode ser flexibilizado. Tem gente que, com quatro sessões, já alcançou o que precisava, e tem gente que precisou de um ano.
Acredita que todos podem alcançar a inteligência emocional?
Sim, se aumentar o vocabulário emocional, aumenta a capacidade de inteligência emocional. Me sentir bem ou mal não é específico, mas ampliar a discussão da pergunta ‘o que estou sentindo agora?’ Se estou sentindo é porque estou precisando. A gente acha que o outro é culpado pelos nossos sentimentos ruins. Na comunicação não violenta, assumimos a responsabilidade pelos nossos sentimentos. Uma pessoa que está no sofrimento dificilmente vai ter empatia com outro. Quanto mais eu me cuidar, mais consigo ver o outro. Não gosto de nada 100%; gosto de equilíbrio. E não tem que olhar só o positivo – tem que sofrer mesmo, para o momento passar. Eu fico mais aliviada vivenciando as tristezas; consigo ver mais o outro quando trato minhas próprias questões.
Falta empatia nas pessoas?
A comunicação não violenta ensina a não julgar. Eu deixo de julgar as pessoas quando passo a entender que elas têm determinadas necessidades. O processo de empatia é buscar entender o que a pessoa está precisando.
Tem algum conselho para quem está sofrendo?
Tudo é uma oportunidade de crescer. Isso não quer dizer para não vivenciar uma tragédia, mas, depois que eu vivenciar isso, vou ter mais facilidade de enxergar um propósito. Deixar-se cair e levantar para ver o que podemos fazer. As pessoas que mais ajudam são as que sofreram ou têm alguém próximo que sofreu alguma tragédia. Minha sugestão é enfrentar, cair para poder se levantar melhor.
O Coahing é bom para uma pessoa estressada?
O nível de estresse tem que existir até certo ponto; passando disso, pode agredir o organismo. Já peguei clientes que estão no limite, e elas ficam anestesiadas. Nesse caso, eu trabalho o mindfullness (aceitação plena): em dois minutos, peço a elas que façam um escaneamento de todo o corpo. Geralmente, elas sentem os órgãos tensos e nem perceberam – 70% das consultas médicas são relacionadas ao estresse. Sem o Coaching, eu já teria enlouquecido há muito tempo. A palavra é consciência. Aprendi com o Coaching a fazer as coisas mais eficientes.
Alguma dica para a pessoa que precisa de ajuda?
Fazer um diário de gratidão. Isso não tem custo e demanda pouco tempo. Você tem que parar todos os dias e anotar de três a dez motivos para agradecer. Ouvir uma boa música, dar risadas, assistir a um filme… No fim do dia, você não se dá conta, mas tem muitas coisas para agradecer.
Tem alguma frase de impacto?
Tudo acontece para o melhor.