O arquiteto Jairo de Sender não se recusou a dar depoimento ao site, esta semana, sobre a prisão da ex-primeira dama Adriana Ancelmo, nesta terça-feira (06/12), acusada, pelo Ministério Público Federal, de ocupar “posição central na organização criminosa capitaneada por seu marido, o ex-governador Sérgio Cabral”.
Jairo é um arquiteto bem conhecido no Rio: não há uma edição da Casa Cor em que ele não participe. Há cinco anos está no programa de Ana Maria Braga, na TV Globo, com o quadro “Dando Retoque”, onde faz a reforma, com pouco dinheiro, de um ambiente da casa de um espectador.
Foram essas as palavras de Jairo: “Pela primeira vez, tomo conhecimento de que a Justiça está sendo feita e penso: nem tudo está perdido! Sérgio Moro faz com que a gente deixe de ser incrédulo – a impunidade não pode prevalecer. Me revolta principalmente a falta de hospitais, e nosso dinheiro sempre em prol de benefícios, como os que ficamos sabendo do Sérgio Cabral e da Adriana Ancelmo. Estou tendo a surpresa de saber como eram os bastidores. Resumindo: é dolorido ver o Rio como está e sem saber onde vai parar. Que deem razão a quem tiver; acho que é o início de uma nova era.” O que poderia ser um testemunho normal a respeito de uma notícia amplamente divulgada adquiriu um certo ar de bravura, levando-se em conta que a maioria das pessoas procuradas preferiu não se comprometer, evitando qualquer comentário. Jairo foi muito cumprimentado por isso durante a semana, dentro e fora das redes sociais.
Foto: Ari Kaye
Você esperava essa reação tão positiva ao seu comentário sobre a prisão da Adriana Ancelmo? Qual é o seu grau de relacionamento com a ex-primeira dama?
“Muitas pessoas vieram me dar parabéns pelas minhas palavras, mas, na verdade, o que eu tenho a dizer é que elas vieram de dentro da alma, são reais, são minhas visões e constatações sobre o que está acontecendo no nosso Estado, essas surpresas tão desagradáveis que estamos tendo.
Sobre a Adriana Ancelmo, nos encontramos em alguns eventos da Casa Cor e inaugurações de lojas, como é o caso da minha foto publicada com ela. Posso dizer que eles, Adriana e Sergio Cabral, sempre foram muito gentis quando a gente se encontrava socialmente, mas relacionamento, não tenho nenhum”.
Acha que seu gesto foi corajoso? O que pensa de quem prefere se manter calado sobre o assunto?
“Não acho que tenha sido um gesto corajoso, foi espontâneo, verídico, expressou um sentimento, fruto de um momento pelo qual estamos passando. Sobre as pessoas que preferem se manter caladas, vou continuar respeitando o direito de cada cidadão de se expressar ou não, mas meu avô Miguel, que veio fugido do nazismo na Alemanha, a vida inteira falou para nós que o mundo silenciou e Hitler matou seis milhões de judeus. Não ficar calado diante de atrocidades e irregulares que a gente escuta e vê é um gesto de caráter”.
Um arquiteto, um decorador de interiores trabalha, invariavelmente, com pessoas de um poder aquisitivo alto. Já recusou algum trabalho por suspeitar da origem do dinheiro do cliente?
“Até hoje não tive que recusar nenhum trabalho por esse motivo”.
Os discursos andam muito inflamados nas redes sociais. Você, que se expõe, aparece na tevê, se sentiu injustamente criticado alguma vez?
“As pessoas acabam se excedendo nas redes sociais, mas vejo pelo lado positivo, melhor ter liberdade de expressão. No meu programa mensal, ‘Dando Retoque’ – um quadro dentro do programa da Ana Maria Braga – eu entro em contato com pessoas com pouco poder aquisitivo, as verdadeiras vítimas da corrupção, de tudo isso que está acontecendo no governo. Acho que estar tão próximo a elas, fazendo a minha missão, que é a arquitetura, não dá margem de ser mal compreendido; fiquei até mais forte nos meus pensamentos, no que acredito”.
Como é para você, como carioca, viver em tempos tão difíceis no Rio?
“Tem que ter muito amor ao Rio, à família, aos amigos, é isso que nos dá suporte. É isso também que leva a gente a querer combater todas essas irregularidades, falcatruas e as diferenças sociais tão gritantes que existem na nossa cidade”.