Um forró de pé de serra. Um teatro de mamulengos. Um dançar agarradinho. Relembrar músicas de ontem e sempre. Isso tudo está na peça “Gonzagão, a lenda”, de autoria e direção de João Falcão. A mistura de todos os elementos do bom musical – dança, letra da música funcionando como texto, ótimos cantores e banda de primeiro time – ganha mais eficiência com a opção de João Falcão de agregar as características da dramaturgia pernambucana: farsa, comédia, personagens caricatos, trapalhadas, roupas coloridas, amor, muito amor.
“É a história de Luiz Gonzaga, mas não é Wikipédia”, diz Falcão. Com isso, é apresentada a gênese do mito, do músico, da sua enorme capacidade criadora, através uma trupe que se apresenta para contar a “lenda do Rei Luiz”. Um dos raros momentos de referência à vida pessoal é o dueto emocionante entre Gonzagão e Gonzaguinha cantando “Sangrando”.
A trupe da peça é formada por oito homens (Adrén Alves, Alfredo Del Penho, Eduardo Rios, Fabio Enriquez, Marcelo Mimoso, Thomás Aquino, Renato Luciano e Ricca Barros, todos se revezando nos vários papéis, inclusive no de Gonzaga) e apenas uma mulher, Larissa Luz. Todos os atores cantam e dançam,com o apoio da banda formada por um sanfoneiro (Rafael Meninão) e do percussionista (Rick De La Torre), um violoncelista (Hudson Lima) e um rabequeiro e violeiro (Beto Lemos), que chega a tocar viola de 10 cordas como se estivesse tocando guitarra. E o resultado é de entusiasmar todo o tempo, nas mais de 50 canções apresentadas.
E abrir o coração, o peito, lembrar do bolo de fubá da vovó. Pensar no par da quadrilha que nunca mais apareceu. Lembrar da dor permanente do nordestino. Pensar que a esperança se queimou ou fugiu como o azulão. Mas ir lá e ver o melhor, mas muito melhor de todos os musicais-biógrafos.
SERVIÇO:
Teatro dos Quatro
Terças e quartas às 21h