Uma época em que os filmes preto/branco mostravam a vida noir. Detetives, como Sam Spade, personagem de Dashiel Hammet ou cantoras como Juliette Greco em Paris falavam da angústia, do desespero e faziam dos vícios, drogas, jogo, álcool, a sua oração diária. Uísque Com Água, cartaz no Teatro Clara Nunes, revive reatualizando essa atmosfera ao adaptar livremente o escritor americano Charles Bukowski, o mais noir dos noires.
Com um elenco encabeçado por Nelson Freitas, no detetive viciado e marginal Nick Belane, que atravessa a fronteira do cômico, fazendo o mais díficli do riso – o sarcasmo, a peça conta uma história rocambolesca que envolve a procura de um pardal vermelho, um escritor Cèline já falecido, uma extraterrestre prostituta, uma funerária, um bar e o maior espectro de todos: a própria Morte.
Para Sartre, decano dos noirs, Charles Bukowski foi “o maior poeta da América”, com uma obra colada na marginalidade, no fracasso, contra-mão no sonho americano, o poeta encarnou o que não se quer ver, aquilo para que as pessoas viram o olhar, mas que não se pode deixar de falar: a sombra, o escuro.
A acertada direção de Sacha Bali encontra na inteligente revisão do underground americano: personagens, figurinos, a banda, a escolha dos blues – pois a peça é meio musical, meio recital – um caminho no qual os atorxs Rosanna Viegas, Samuel Toledo, Carolina Chalita e Thogun Teixeira, em múltiplos papéis, conseguem deixar claro a que vieram: o lado negro da força não é necessariamente negro. É apenas a vida.
Serviço:
Teatro Clara Nunes
Quintas às 21 horas