Tráfico quer dizer ato mercantil, negócio, comércio, mas, também, negócio clandestino, ilícito, ilegal. Tratado como comércio ilegal, lá está o clássico “Traffic”, de Steven Soderbergh. Há também o divertido e irônico “Traffic”, de Jacques Tati. O monólogo “Tráfico”, autoficção do franco-uruguaio Sergio Blanco, com direção de Victor Garcia Peralta, trata do mais grave dos atos: como a alma humana pode ir de uma imorredoura redenção até a pior das abjeções.
No palco, está o ator Robson Torinni, em excelente interpretação, que vive um garoto de programa, um solitário, um piloto descoordenado, easy rider que não escolhe nem as estradas, nem as pousadas. Segue em frente na motocicleta que pilota, em algo que torna metáfora de uma vida, na qual mal se livra das ultrapassagens e dos perigos que aparecem. A direção de arte de Gilberto Gawronski transforma o cenário em uma instalação, digna de estar em qualquer bienal, que simula, além do objeto moto, os limites com que o personagem se defronta.
O texto é um caleidoscópio de emoções: surpresa, redenção, superação, paixão, encontro, desespero – não vida e morte. Sergio consegue um efeito único: não há possibilidade alguma de a plateia piscar, perder um sílaba sequer. O tom confessional é, em parte, não só a autorizada própria escrita de si do autor, mas também um olhar que se derrama de uma pessoa com quem , dificilmente, temos contato tão íntimo, tão próximo.
Serviço:
Teatro Poeirinha, em Botafogo
Quintas, sextas e sábados, às 21h
Domingos, às 19 h