Nos novos tempos, o importante é ser bem-sucedido, amado, divertido, ter bom emprego… Enfim, ser feliz, feliz, feliz é uma exigência – ou se tem tudo, ou não se tem nada. A admiração vem do outro, dos likes, dos julgamentos, das disputas vencedoras. É desse mundo que “O Método Grönholm” faz uma bela e eficiente metáfora simulando uma etapa final de seleção para um bom emprego.
O texto, premonitório, pois é de 2002 e continua eficientíssimo, é do catalão Jordi Galcerán, capaz de captar, criando situações aparentemente absurdas e diálogos brutais, os grandes tormentos das almas atuais. Um outro acerto é que tudo se passa exatamente no mesmo tempo da peça, em um cenário frio e realista, o que aumenta a verossimilhança; como consequência, tem-se praticamente um documentário, o que aumenta a sensação da verdade.
A direção de Lázaro Ramos e Tatiana Tibúrcio consegue um uníssono do elenco, formado por Luis Lobianco, Raphael Logam, George Sauma e Anna Sophia Folch, um quarteto afinado nos confrontos, na movimentação. O ringue torna-se imaginário, pois só vemos som e fúria, ódio e agressividade sem limites. Como o texto se diz comédia, o resultado é um invólucro pesado, mas com recheio leve, chegando a provocar risadas.
Há que ressaltar a presença de Luís Lobianco, ator extraordinariamente versátil, capaz de ir do mais patético, do mais idiotizado, que são as características do seu personagem, para alguém que se esforça a fim de ser outra pessoa. Orlando Caldeira, George Sauma e Anna Sophia conseguem ir além de possíveis coadjuvantes, na articulação da duplicidade de seus personagens (sem spoiler).
O “Método”, como todo método que se preze, é meticuloso nos detalhes, profundo nas observações e verdadeiro na exposição dos resultados. Consegue criar imediata identificação, que nos leva a perguntar: para quê?
Serviço:
Teatro das Artes (Shopping da Gávea)
Até 2 de julho
Às sextas e aos sábados, às 21h; e aos domingos, às 20h