Todos temos nossa professora de cabeceira. Alguém que, em dado momento de nossa vida, deu-nos conhecimento, carinho, atenção. Transformou-nos — nosso role model, um sentimento que nos enche a alma. Com esse conceito, é que uma professora diz coisas fundamentais, inusitadas, que nos fazem pensar. Com a força de mover e mobilizar, Eduardo Wotzik, encena o monólogo “Hannah Arendt — Uma Aula Magna”.
A peça, escrita, dirigida e interpretada por Eduardo Wotzik, que vive a própria filósofa Hannah Arendt, conta também com a atriz Natally do Ó. Em um figurino incrível, de blazer, calça, scarpin de salto alto, Wotzik constrói uma Hannah Arendt maior e mais contundente do que a filósofa que consagrou o conceito da banalidade do mal.
O roteiro permite algo raro: a provocação e interação com a plateia acontece via interpretação, movimentação na construção de um diálogo evidenciando que a educação funciona como metáfora do desnível entre ação e efeito, que resultou nos estudos da filósofa sobre totalitarismo. Esse interesse nasce na infância de Hannah que se mostrou inteligente e politicamente ativa desde criança. Na adolescência, liderou um boicote na escola, contra um professor que a havia insultado, o que resultou na sua expulsão da instituição.
Dessa forma, em um processo de escrita de si, ainda que não autobiográfica, o palco torna-se o epicentro de um turbilhão de conceitos sobre o que é educação, os embates entre o que é o ensino, os alunos e que os professores e o sistema formal são ineficientes, tão longe do que deveriam alcançar. Durante 50 minutos, Wotzik fala, discursa, grita, vocifera e faz um jogo com a plateia que nos tira da zona de conforto. Mostra que, na passividade banal, pode estar o mal.
Serviço:
Local: Centro Cultural Justiça Federal (Av. Rio Branco, 241).
Sessões: sexta a domingo, às 19h