Ainda no século passado, observou-se que o desenvolvimento do teatro e de suas técnicas de encenação ocorreu num período em que inovações ainda mais radicais aconteciam nas artes plásticas, principalmente na pintura. Com a pandemia, estabeleceu-se com força um outro elemento: a tecnologia, que se torna até mesmo um personagem.
“Enquanto você voava, eu criava raízes” surgiu do mergulho de André Curti e Artur Luanda Ribeiro, criadores da interessante e inovadora Cia. Dos a Deux. O jogo de palavras do nome já demonstra a inventividade dos artistas. “Dos”, em francês, quer dizer costas, mas se pronuncia como dois em português. Assim, todos os trabalhos da dupla usam o corpo e todos os seus elementos como fio narrativo. Essa presença se repete nesse recente trabalho.
O que vemos é um resultado extraordinário que funciona como um quadro, com a moldura da boca de cena, no qual a utilização da luz (base da linguagem das artes visuais), os elementos cênicos e os corpos não se preocupam em narrar uma história clássica. Com o torso nu, uma calça de malha fina que permite vislumbrar os músculos perfeitamente esculpidos, o que podemos ver são esculturas móveis.
Outro procedimento que reverbera a proposta é a utilização de uma espécie de teatro de sombras, fazendo com que a sombra, imagem aumentada, dialogue com o corpo do ator que está em destaque na cena. E mais para colaborar com a proposta de fazer do teatro aquilo que mostramos com atores, os elementos circenses, como corda e equilibristas, tornam-se contundentes para a mensagem.
Serviço :
Teatro Oi Futuro, no Flamengo
De quinta a domingo, às 20h