Todos nós, desde crianças, somos habituados a ficar quietos e atentos para ouvir alguém contar uma história. Contar histórias às crianças, na hora de dormir, é uma prova do amor sem limites dos pais. Quando Liliane Rovaris decide elaborar o luto dos pais, lê “Crime e Castigo”, o clássico de Fiódor Dostoiévski. Desse processo, Liliane cria “Crime e Castigo 11:45” , uma experiência de dramaturgia na qual a atriz nos conta uma história.
De forma criativa e estimulante, Liliane faz uma carpintaria em que organiza os dois níveis de narrativa. Fala de sua própria história em um movimento no qual amplia o que chamamos de escrita de si, para ir desvelando os episódios, personagens de “Crime e Castigo”. E para caracterizar que história está contando, Liliane interpreta de forma diversa, muda a voz, o ritmo, o tempo, o que resulta em uma interpretação de singeleza comovente.
Quando a plateia chega, Liliane já está no cenário: uma mesa/escrivaninha, cadeira, uma televisão pequena, antiga, de tubo, tudo simples, cotidiano. Ao misturar móveis atemporais com um aparelho de TV antigo, somos levados a um ambiente que nos lembra uma sala de aula do passado, mas que Liliane aponta como uma lembrança do quarto dos pais. Essa aposta na dupla leitura quarto dos pais, que se assemelha a um local de ensino, é o eixo que sustenta a peça.
Ao nos falar de um tema difícil, a morte, Liliane, de forma corajosa, vai contando as histórias de várias mortes: morte em vida, no caso dos personagens russos, por sua situação de total abandono físico e espiritual; a morte súbita, inesperada, chocante, de seu ídolo, David Bowie; e a morte sofrida de seus pais, por doença, na solidão dos hospitais. Do desaparecimento, é que Liliane nos conta uma bela história.
Serviço:
Sesc Copacabana ( R. Domingos Ferreira, 160)
De quinta a domingo, às 20h