Vivemos a era do cansaço, da superexposição, da obrigação de ter sucesso. Agora, imagine o pobre Diabo, literalmente, condenado a ser o mal, a jamais se dar bem, se o inimigo número um em uma sociedade que se alonga com valores há mais de 2 mil anos! Uma sociedade branca, masculina, patriarcal na qual se condena ao fogo do Inferno qualquer um que se contraponha ao que se é determinado como certo. É desse fato histórico, que Rodrigo França extrai a bela metáfora que se cristaliza em Capiroto, no Teatro Prudential.
Encarnado de forma envolvedora por Leandro Melo, em uma atuação que confirma ser o ator a alma, o monólogo historiciza o papel do Diabo, que possui inúmeros nomes, dentre os quais, Capiroto. O cenário, que compõe bem o texto, é composto por uma projeção em “vitrais, e uma enorme mesa de vidro com o qual Leandro dialoga e ilustra aquilo que diz. A mesa serve de movimento e funciona como um segundo palco.
O texto é brilhante, pois vai, como uma cebola, descascando cada camada. Começa com o mito de fundação de nossa civilização ocidental até os dias atuais. E em um texto divertido, cruel, dramático, aponta com o dedo em riste de que maneira encontrou-se na figura do Malévolo, o contraponto para exercer a dominação dos valores masculinos que levam a tudo que é destrutivo: escravidão, perseguição às religiões, misoginia, transfobia, demofobia. O melhor do texto é evidenciar como tantas fobias, tantos cídios advêm da demonização que “os homens de bem” fazem com tudo o que lhes contraria e ameaça.
Serviço:
Teatro Prudential
R. do Russel, 804 – Glória, Rio de Janeiro – RJ, 22210-010. Sexta e sábado, às 20h.
Domingo, às 19h.