O projeto de Duda Rios e Zahy Tentehar poderia ser mais um monólogo autobiográfico, mas não é: trata-se de texto emocionante. A atuação de Zahy Tentehar é o primeiro impacto – gratificante. Ao resgatar a sua vivência com a mãe, “Azira’i”, a primeira mulher pajé da reserva indígena de Cana Brava, no Maranhão, onde ambas nasceram, Zahy é capaz de misturar dois códigos com absoluta proficiência. Em todas as linguagens performáticas, canta, dança e fala; altera prosódias diferentes que nos envolvem.
O texto de Zahy e Duda Rios, que também assina a direção com Denise Stutz, se utiliza de princípios de roteiro audiovisual, fazendo com que a câmera seja capaz de captar diferentes olhares. Fala a filha, Zahy; a mãe, Azara’i, fica presente nos seus costumes, nas suas atitudes e na exibição de suas lutar. E um narrador que nos puxa para aquilo que deve ser destacado.
Há de notar a produção primorosa de Andrea Alves, da Sarau, que sempre nos traz espetáculos que falam de nossa brasilidade, com um cuidado em todos os detalhes, permitindo que talentos aflorem. O som dos pássaros, a trilha de Elisio Freitas, os figurinos de Carol Lobato, a iluminação de Ana Luzia de Simoni se juntam ao espetáculo visual das projeções do multiartista Batman Zavareze (direção de arte e design gráfico), que inundam o palco de puro deslumbramento.
Há afeto, tristeza, amor, dificuldades, um pensamento profundo sobre o que é ser mulher, mãe, indígena. De um quadro que poderia se recolher ao tema da exclusão, emerge, pela mão dos artistas Duda, Zahi e Denise, um outro pensamento: como vale a pena ir em frente, como o juntar de pontas, como se fazer um bonde, criar um caminhar pelos trilhos da emoção, que o teatro é capaz de dar.
Serviço:
Até domingo (05/11), sexta e sábado, às 19h; domingo, às 18h, no CCBB, no Centro (Primeiro de Março, 66).