Escrita por Walcyr Carrasco há 15 anos, a peça “Êxtase” estreou em nova montagem na semana passada, no Teatro Poeirinha. Espetáculo que rendeu ao escritor e novelista o Prêmio Shell de Melhor Autor em 2003, mostra o efeito devastador das drogas nas relações pessoais e na autoestima de quem usa. Temas polêmicos como esse são uma constante na carreira desse paulista do interior do Estado, que recebeu, ano passado, o Emmy Internacional, na categoria Melhor Novela, por “Verdades Secretas”, outro sucesso incontentável: a produção já foi vista em inúmeros países como EUA, Portugal, Egito e Líbano e está passando, no momento, na Macedônia, Paraguai, Porto Rico e Costa Rica.
Carrasco também se prepara para a estreia, provavelmente em outubro, da próxima novela das 9 da Globo, “O Outro Lado do Paraíso”, texto seu com direção de Mauro Mendonça Filho e que, ambientada no Estado de Tocantins, vai falar sobre o mundo do garimpo de pedras preciosas e da lei do retorno. Walcyr, aliás, é conhecido por seus temas espiritualistas, como a reencarnação, mostrada na novela “Alma Gêmea” e no romance “Juntos para sempre”. Perguntado sobre a interminável crise em que o Brasil está mergulhado, ele não acredita, no entanto, em nenhuma explicação mística, que envolva carma ou algo semelhante: falta de emprego, grana e a “violência assustadora” são os motivos que estão levando os brasileiros a abandonar o país, na visão do autor. Nessa entrevista, Carrasco está falando pouco, mas dizendo muito.
Foto: Globo/Estevam Avellar
Quinze anos depois de ter escrito o texto da peça “Êxtase”, que fala principalmente do vício em drogas, você acha que o país está mais maduro para discutir essa questão?
“Eu acho que essa questão continua mais válida do que nunca. Quis penetrar o mundo de quem usa drogas, mostrá-lo em sua verdade mais intensa”.
Você acredita que o viciado colabora diretamente para o esquema de violência que envolve o tráfico?
“A questão é muita complicada para ser explicada em poucas palavras. Aconselho a ver a peça para se ter uma ideia real do esquema que envolve o tráfico e o usuário com suas famílias”.
O uso medicinal da maconha ou seu consumo controlado, como no Uruguai, são coisas que você aceita?
“Eu aceito não só o uso medicinal. Acredito que as drogas deveriam ser totalmente liberadas, pois as políticas públicas de combate são um fracasso. O álcool é uma droga e, no entanto, o alcoólatra tem muito mais possibilidades de tratamento e acompanhamento que os usuários de outras drogas. Justamente por ser legalizado o consumo”.
“Verdades Secretas” foi vendida para vários países. Você tem tido um retorno de como públicos tão diferentes vêm reagindo aos temas ousados da série?
“’Verdades Secretas’ é uma alegria. Os públicos mais diversos são fascinados pela novela, talvez por retratar temas que acontecem em todos os países”.
Sua próxima novela, “O outro lado do paraíso”, trata do garimpo de pedras. Esse mundo da mineração vai ser explorado de forma realista?
“Sim, a exploração das esmeraldas será muito realista. Bem verdadeira”.
A propósito, o que seria o paraíso na sua visão?
“Eu acho que o Paraíso é uma sensação de harmonia com o Cosmos. Quando estamos desarmônicos, nos desequilibramos”.
Numa crônica recente, você lamenta tantas pessoas saindo ou, pelo menos, querendo deixar o Brasil. Seu lado espiritual consegue explicar esse caos no país?
“Eu acho que o problema das pessoas deixarem o país não é espiritual, mas falta de oportunidades de trabalho e de grana mesmo. Além da violência, que se tornou assustadora”.