O Museu Carmen Miranda foi reaberto, no Flamengo, depois de 10 anos em obras. “Carmen Miranda (1909-1955) é a própria história do Rio”, disse o diretor César Balbi, na festa de reinauguração, nessa sexta (04/08), com uma multidão, entre imprensa, fãs, admiradores e curiosos.
Embora nascida em Portugal, a mulher que divulgou o samba no mundo e conquistou a América entre 1930 e 1950 chegou ao Rio aos 10 meses e passou adolescência e grande parte da vida na cidade carioca, ou seja, só não tem o registro geográfico carimbado na certidão. Ruy Castro, biógrafo da artista, (autor de “Carmen — uma biografia”) e Heloisa Seixas (autora de “A grande Pequena Notável”, para crianças), são curadores da exposição “Viva Carmen”, que inaugurou o museu. “De longe em longe alguém conhece tão profundamente outra pessoa como Ruy conhece Carmen, apesar de nunca terem se visto”, diz jornalista que não quer o nome publicado, sabendo dos anos dedicados às pesquisas do escritor para o livro.
Entre os 120 itens originais expostos, que integram um acervo de mais de 3 mil peças, estão figurinos que fizeram história, como vestidos, turbantes, sapatos, acessórios e bijuterias, além de fotografias, partituras, roteiros, programas e cartazes. O público vai conhecer desde a infância da “Pequena Notável” (ela tinha 1,53 metros de altura) até a explosão como “The brazilian bombshell” em Hollywood e no mundo e, como diz Ruy no título, se apaixonar perdidamente.
Por ser biógrafo de Carmen Miranda, facilitou fazer a curadoria do museu? Você tinha tido contato com o acervo de Carmen antes?
Sim, conheço bem o acervo do museu. Ao fazer a biografia de Carmen, passei meses dentro dele em 2004, consultando sua fabulosa coleção de recortes e fotos — que, infelizmente, poucos sabem que tem lá. Mas quem dividiu comigo os textos da exposição foi minha parceira Heloísa Seixas, ela própria autora de uma ótima biografia de Carmen para crianças, “A grande Pequena Notável”, que saiu pela Zahar.
O museu Carmen Miranda dá uma ideia da grandeza dela para o Brasil?
O museu é um milagre, considerando-se que muita coisa de Carmen (roupas, turbantes, sapatos, frasqueiras, pulseiras, colares) foi dada irresponsavelmente pela sua família, durante 50 anos, a quem os pedisse — e não ao museu, que é onde eles deviam estar. Nos anos 70, a família emprestou vestidos originais de Carmen a cantoras para fazer shows sobre ela. Essas cantoras suavam os vestidos no palco, e eles eram lavados com sabão moderno, que continha uma química mortal para eles. O que sobrou é, mesmo assim, espetacular, e está no museu.
O que você destaca?
O item mais importante da vida de Carmen são os seus discos porque ela foi a maior cantora do Brasil, e o museu tem muitos. Tem também vestidos originais, que passam por manutenção permanente, e muitas cópias tão perfeitas que se pode jurar serem os verdadeiros. O diretor do museu, César Balbi, é um herói, conseguindo fazer tudo isso com tão pouco dinheiro.
Qual figurino ou objeto representa um grande momento da vida da cantora?
Nosso favorito, meu e de Heloísa, é a baiana de losangos, que foi a primeira baiana que Carmen usou na vida, e criada basicamente por ela.
Qual a importância para os cariocas (e brasileiros) da reabertura de um museu sobre a “Pequena Notável”?
A importância é conhecer melhor essa extraordinária artista brasileira, que a maioria só identifica pela personalidade famosa dos filmes americanos.
Algo se perdeu nesses 10 anos de museu fechado?
Não, com o museu fechado, não. Ficou tudo bem guardado lá, sob a vigilância do César. O que se perdeu já tinha se perdido antes, mas o museu conseguiu reconstituir muita coisa.
O que mais o emociona em Carmen e por quê?
Carmen é uma figura apaixonante. É impossível conhecer sua trajetória — e ela está contada em detalhes na exposição — sem se apaixonar por ela.