
Veruska e Ricardo Boechat: viveram um casamento muito feliz até a partida dele, em 11 de fevereiro de 2019, deixando o Brasil em choque
Tanta gente me pergunta, o tempo todo, o que meu marido diria sobre o momento que estamos vivendo… Se ele seria a favor do isolamento e por quanto tempo, qual diretriz adotar na saúde e o que estaria dizendo sobre a postura e as atitudes dos nossos governantes.
Sem modéstia, digo que parte da genialidade dele residia no inesperado, no fato de que, muitas vezes, o que pensava e dizia era novo até pra ele, mas sempre seguindo uma única lógica e firme propósito de ajudar o próximo, de defender e lutar principalmente por quem realmente não tem nem nunca teve voz, ou recursos, e muito menos padrinho. Cobrar e exigir das autoridades era, sim, uma parte vital da missão dele, mas estava longe de ser a única.
A caixa de entrada do e-mail dele sempre foi um buraco sem fundo de pedidos de ajuda. Houve época em que eu tentei ajudá-lo, lendo essas mensagens para responder, mas desisti porque ele não aceitava respostas-padrão, o que tornava a tarefa humanamente impossível de ser concluída sem a sua participação.
Eu sempre fazia piada quando ele chegava todo feliz, invariavelmente atrasado, dizendo: “Estava enrolado, mas consegui responder a todos os meus e-mails e SMS” (ele não tinha WhatsApp). Minha reação, não como crítica mas como tentativa de mostrar que as demandas de fora não podiam privá-lo do convívio com nossas duas filhas, era sempre a mesma: “Até daqui a meia-hora, quando lotar de novo.” Nosso eterno cabo-de-guerra era, da parte dele, para exercer sua grande alegria de fazer a diferença na vida das pessoas e, da minha parte, para que ele não deixasse o trabalho impedir que fosse sempre presente no dia a dia das meninas, já que se ressentia de não ter visto os filhos mais velhos crescerem. Apesar de me dar uma ‘canseira’ nesse sentido, em geral ele ‘me obedecia’, porque sabia a importância disso e tinha noção da mudança que essa vida familiar feliz operou, pra melhor, na sua vida.
Então mais do que deduzir quais seriam suas palavras diante de tudo que estamos vivendo, garanto que ele não se ateria às críticas e divulgação e análise de números e estatísticas. Tenho certeza de que colocaria em destaque a vida humana e abraçaria pessoalmente cada pedido de socorro que chegasse.
Ele incentivaria quem não perdeu nem diminuiu sua renda a continuar dando a mão para cada prestador de serviço, cada pequeno negócio, cada prejudicado pela pandemia, e me faria agir exatamente assim, na nossa vida pessoal, com todos que nos cercam.
Cuidar da própria família e ajudar os outros, arrisco-me a dizer que ele diria que é o melhor que podemos fazer não só neste momento como também sempre: quem pode mais e precisa menos ajuda quem pouco tem e quase nada pode. Digo isso mesmo correndo o risco de ele vir puxar meu pé à noite, já que era imprevisível.
Ah! E claro – mesmo não contando com nada vindo dos nossos políticos, ele estaria descendo o sarrafo na ineficácia e no egocentrismo deles, mas não estaria surpreso com tanta trapalhada.
Veruska Seibel Boechat, jornalista, colunista do programa “Aqui na Band”, vive em São Paulo. É mãe de uma pré e uma adolescente e, desde fevereiro de 2019, viúva de Ricardo Boechat, “melhor marido e jornalista que já existiu”.
Me lembro q, por vê-lo no jornal com óculos quebrado, mandei mensagem para ele, e foi com enorme alegria q li sua resposta.Acordava cedo para ouvir seu editorial e chorei desesperadamente qdo ele nos deixou. Toca o barco
Não podemos imaginar, cara Veruska, sequer perto disso chegar, quanto ao tamanho do vazio que há, na ausência do Ricardo filho, irmão, marido, pai, avô, amigo, entretanto, ainda nos espantamos, eu e minha mulher Roberta, quando juntos, às lágrimas, nos damos conta de tamanha perda, como se À NOSSA FAMILIA, o teu Ricardo, PERTENCESSE. Num país retalhado por “guerras de ismos”, triste não poder contar com uma voz guia, independente, cujo foco, em sintese, é o que você, tão brilhantemente, acabou por expressar. O HUMANISMO de Boechat, nunca foi tão necessário no momento que agora vivemos.
Saudades de ouvir ele sentar o sarafo nos políticos logo cedo ,SDS da humildade ,SDS da humanidade ,quanta falta ele faz ,tenho certeza q se estivesse vivo estaria perplexo com TD que vem acontecendo no nosso país
Que saudades, quando mostrei para os meus amigos que Boechat tinha respondido a um SMS que mandei pra ele na época da crise de depressão foi o maior buxixo, me lembro com muitas risadas, ele foi sim meu amigo, amigo de tantos outros brasileiros, e me dava muito orgulho sim; sabe, me desculpa, ele era único por isso faz tanta falta, insubstituível, sinto falta das nossas conversas, ele no ar na rádio e eu em casa, como se tivessemos debatendo, as vezes brigando, louco isso não é?!?!! Veruska, você é admirável e admirada, e será sempre a doce Veruska, bjs .