No mês de abril, minha galeria fez 9 anos, no meio da pandemia, mas parecia para o mundo todo que era um momento “provisório” (em abril, era essa a sensação). Fiquei pensando em novos formatos para seguir trabalhando durante esse período, mas, no quadro que estamos vivendo, fazer planos é surreal. Com o passar do tempo, fomos deparando com um futuro diferente, que, mesmo agora, ainda é incerto: dias, semanas, meses…
E me dei conta da seguinte questão: quando acabar ou amenizar o isolamento, como será o cenário de uma galeria de arte ou até mesmo das instituições culturais? O mercado de arte que trabalha com o mercado primário (artistas vivos) só existe tendo exposições. Como seriam as vernissages? E mesmo tendo-as, quando poderíamos fazer? Não temos resposta para muitas perguntas, e ficar com uma galeria de 500 metros quadrados, de portas fechadas, fazendo vendas pela Internet (elas estão começando a acontecer…) e sem previsão de retorno, seria muita vaidade e falta de noção do que estamos vivendo.
Acredito que o Rio, por mais otimista que sempre fui, está numa situação complicada, pior do que muitas cidades. Então, tomei uma decisão mesmo com o amor e alegria que sempre tive nesse lugar maravilhoso que construí; o trabalho passou a ser inviável. Foi aí que resolvi fechar, de fato, minha linda e querida galeria, apesar ser ainda o lugar onde está meu coração.
Pensei também que, se milagrosamente, a vacina for descoberta e colocada no mercado, nem assim, vamos voltar à normalidade, antes de outubro, novembro. Sendo assim, a Galeria Luciana Caravello Arte Contemporânea, em Ipanema, passaria a ser o depósito mais caro do Brasil!
Estou indo morar em São Paulo — era uma ideia que vinha à minha cabeça desde que minha filha foi estudar lá (onde fiz amizades lindas), minha mãe faleceu e meu filho foi morar sozinho. Enfim, nada me prendia mais ao Rio; passei a questionar isso também. Já tinha um apartamento alugado e pronto por lá, então a decisão ficou mais fácil. Claro que, numa hora dessas, temos mil inseguranças: até que ponto fui importante para os artistas? Quanto sou respeitada? Construí algo? Isso são questões que vêm muito quando estamos num processo desses.
A gente vai par um caminho mais espiritual (meditação, física quântica…) e passa a questionar o que viemos fazer aqui neste mundo: nascer, comer, pagar conta e morrer? Alguma coisa a gente veio para fazer; não precisa virar Buda ou Ghandi e ter uma missão tão grandiosa… Mas alguma, com certeza todos nós temos.
E a resposta veio quando comuniquei o meu fechamento e mudança. Foram tantas mensagens lindas, carinhosas, acolhedoras (a gente se sente meio só nessas horas) e de incentivo, que me emocionei muito e entendi que sim, ajudei e agreguei muita coisa boa. E vou fazer mais: assim que eu decidir como vou atuar em SP, volto a esse processo de trabalhar com o que mais amo e que é meu propósito. E é tão bom quando a gente tem um!
Quanto ao mundo, acho que nem os profetas têm uma noção. Muitos achavam que as pessoas iam melhorar, ser mais solidárias, relativizar o valor do dinheiro etc. Também achei. Agora tenho o palpite de que as coisas só vão se potencializar: quem tem solidariedade vai ser 100% solidário, mas quem tem materialismo, vai ser 100% mais materialista.
Tem gente que está tentando entender o que Deus está querendo explicar, e tem gente que acha que é só um advento que já, já, passa, e a vida vai seguir igual. Vamos ver. A minha vida já mudou, acredito que para melhor, apesar das perdas. Só tenho a agradecer por esses anos, cada minuto deles.
Luciana Caravello é aquele perfil de pessoa para quem trabalhar com arte sempre fez parte do essencial. Desde a inauguração da sua galeria, há quase uma década, na Barão de Jaguaripe, em Ipanema, os mais importantes artistas ilustraram aquelas paredes, muitos deles indo parar em importantes coleções, por seu intermédio. Seu nome tornou-se importante e respeitado no mercado.