Quando o assunto é sexo, o interesse é praticamente unânime. Até este domingo (05/05), os cariocas podem conferir as novidades eróticas da 4ª edição da “Sexy Fair”, no Centro de Convenções SulAmérica, no Centro. No entanto, pode se decepcionar quem espera pornografia, mesmo com os pênis de borracha de todas as cores e tamanhos espalhados pelos estandes. O objetivo ali é informar sobre assuntos sexuais, trazer o que há de novo no mercado erótico e “normalizar” o sexo.
“A feira é um lugar onde a gente debate, discute, fala abertamente e sem limitações sobre sexualidade como um todo. É importante desmistificar esse tema, quebrar tabus”, diz a sexóloga Tati Presser, autora do livro “Vem transar comigo” (2016), à frente da parte educacional e pelas mais de 30 palestras, entre elas, uma inédita, com Raquel Pacheco, a famosa Bruna Surfistinha (essa tem o que contar). Vai ser no dia 04/05, a partir das 20h.
Monotonia passa longe. O evento, com 70% de visitantes mulheres, espera 50 mil pessoas em seis dias de brincadeiras eróticas, shows de strippers, Castelo do Fetiche, Tequileiros, boate e estandes com todos os tipos de produtos eróticos. Além disso, apresentações de stand up comedy com curadoria do comediante Nizo Neto, marido de Tati, e shows de funk com Valeska, Naldo e MC Koringa até às 3 da manhã.
Qual a importância da Sexy Fair?
Mostrar que uma feira sobre sexo pode ser educativa sem ter pornografia; todo mundo está vestido. Já vi casos de mães virem juntas com as filhas. Posso dizer que é uma feira familiar (rs). Não tem sexo, não tem ninguém pelado, mas tem atrações que ficam dentro de salas — você vai se quiser. A missão é tratar o sexo com normalidade, porque sexo é saúde. As pessoas têm que se preocupar mais com as chuvas, a política, e não com sexo.
Por que sexo ainda é tabu?
As pessoas veem o sexo como sacanagem, mesmo em pleno 2019. A pessoa fascista nada mais é do que um frustrado, um mal-resolvido sexualmente, que quer botar na bunda do outro. É uma energia sexual que não circula. Imagina se o sexo fosse tratado em casa ou nas escolas, onde quer que seja, de uma forma normal? Não teríamos os problemas que temos hoje, e sim humanos mais saudáveis.
Acredita que o erotismo excita mais do que a pornografia?
Com certeza. A gente ainda não está na normalização, e o escondidinho ainda atrai, tenta utilizar todas as ferramentas, menos a sacanagem, que traz uma conotação barateada do sexo.
O que está se falando nos consultórios de sexólogos atualmente?
A mulherada quer ter a perereca igual à de filme pornô e está fazendo cirurgias para deixá-la ‘perfeitinha’. Isso me deixa louca porque cada perereca é de uma forma, mas tem mulher com vergonha por ter um clitóris acentuado, os lábios internos maiores que os externos, e ficam na paranoia. E tem o clareamento anal e a ejaculação feminina.
Jura?
Sim, além de a mulher não conseguir ter orgasmo via penetração, a ejaculação feminina é meu maior problema no momento, porque, depois de assistirem àqueles jatos de filme pornô, elas ficam na dúvida se gozaram. A ejaculação feminina existe, mas, para a maioria, é imperceptível. A lubrificação sai das paredes do canal vaginal, como se fosse o suor; isso é o ‘gozei’. Tem umas meninas que conseguem molhar a cama inteira, porém não é um jato que atravessa a parede — é um exercício uterino que a mulher faz nesses filmes.
Como sexóloga, as pessoas acham que você tem obrigação de saber tudo?
O Nizo (Neto, marido de Tati) é uma ótima cobaia, mas ser marido de sexóloga tem seu preço. Para escrever o livro, eu pegava o pênis dele e ficava olhando tecnicamente, porque tinha que ter outro olhar. Mas sabe o que muda? A informação. Tenho confiança naquilo que estou fazendo porque entendo. Toda mulher pode ter essa confiança. Há alguns anos, fiz cirurgia bariátrica porque eu estava gordinha; agora estou magra, gostosa, me sentindo a última Coca-Cola do deserto; mas, mesmo gordinha, eu tinha confiança. Tem muita mulher que não sabe o que fazer com um pênis e muito homem o que fazer com o clitóris ou o que é uma preliminar.
Você acredita que as pessoas não sabem transar?
Não sabem — nem elas nem eles, mesmo tendo pegada, por falta de informação. As pessoas esquecem que o tesão está na cabeça também. O que acontece é que se acha difícil inovar, mas são apenas detalhes e paciência.
Existe segredo para manter um bom sexo num casamento longo?
Informação, educação e novidade. Todo mundo fica querendo voltar para o início da relação, mas, lá atrás, não existia nada de mais, apenas duas pessoas cheias de hormônios que transam o tempo todo. Quantidade não é qualidade. A intimidade é criada com o tempo; depois de mais ou menos cinco anos, é o momento em que você aprende e pode avançar. Sexo anal, por exemplo, ou alguma fantasia, sexo a três… Eu posso dizer que salvei muito casamento por aí. Muito homem acreditava que as mulheres não gozavam com eles, os traíam, uma bobeira só, mas tem que investir no clitóris, no tempo, na masturbação, entender e controlar o orgasmo.
Novidade é a chave?
Claro. A novidade é igual a droga: precisa de uma dose mais alta para fazer efeito. Pode ser brinquedo, posição diferente, um conto erótico, filme picante, algo para o cérebro acender, porque senão fica previsível. As mulheres costumam esfregar o clitóris na perna do parceiro, o famoso cachorrinho; 90% das mulheres são assim, mas, na maioria dos casos, terminam na mesma posição. Se ela aprende a controlar o orgasmo, tira essa dependência do cachorrinho. Se ela ou ele mudam a situação, o cérebro apita e produz dopamina, endorfina adrenalina, todos os hormônios voltam à atividade.
Qual a maior dúvida sexual de homens e mulheres?
Do homem, é como fazer a mulher chegar ao orgasmo com penetração, como retardar a ejaculação e o que fazer quando brochar. Das mulheres, é a história da perereca feia, como ejacular, como chegar ao orgasmo com penetração e a falta de libido, porque ela tem menos vontade, mas é preguiça. O homem transa para ‘desestressar’, e a mulher fica energizada, é fisiológico, ela pode faxinar uma casa depois do sexo. Nesse caso, eu salvo o homem: não é culpa dele, é uma questão hormonal.
O brasileiro está com tantos problemas, o País está estranho, desemprego, tragédias ‘naturais’. Como fazer para focar na relação sexual?
Estamos vivendo um momento difícil. Existe o conservadorismo, mas também a resistência, igualmente forte. Temos que nos lembrar de que sexo é saúde. O ditado da pessoa mal-amada não é à toa: sem energia sexual, você não constrói, não cria, não é feliz. Se não fosse o sexo, não teríamos pessoas. O clitóris não tem outra função a não ser dar prazer; já o pênis tem a uretra, com outra função além da ejaculação.