Sandra Pêra tinha na irmã Marília Pêra, que morreu no início de dezembro, uma grande amiga, confidente e parceira profissional. As dores da perda, pode-se imaginar, não foram (e são) poucas, mas a atriz, cantora e diretora está voltando à rotina de trabalho: nesta sexta-feira (15/01), ela estreia no Teatro Leblon, na Sala Fernanda Montenegro, o espetáculo “Assim como Nós”, um conjunto de esquetes escritos por Adriana Falcão, Julia Spadacini, Tatá Werneck, Paulinho Serra, Martha Mendonça e outros, sobre neuroses do dia a dia, no trânsito, em casa, no hospital, em lojas ou no ambiente de trabalho. Dirigida por Cláudio Torres Gonzaga, que também atua na peça, ao lado de Bia Guedes, a comédia vai explorar a veia cômica de Sandra, já mostrada na TV na Escolinha do Professor Raimundo e, recentemente, nos filmes “O Concurso” e “Billi Pig”.
A filha dos atores Manuel Pêra e Dinorah Marzullo é, como era a irmã, um talento versátil: Sandra começou a se tornar conhecida como cantora, no grupo As Frenéticas, que surgiu na década de 70, com as discotecas, e até hoje é lembrado pelo seu sucesso na MPB. Ela também dirigiu o show “Baiana da Gema”, marcante na carreira da cantora Simone, e “Elas por Ela”, musical em que Marília interpretou 35 cantoras e reconstituiu a história da MPB, entre 1920 e 1970.
Sandra também é mãe da atriz e cantora Amora Pêra, que teve com o cantor e compositor Gonzaguinha.
Você já estava programando encenar a comédia “Assim como nós” antes da morte da Marília ou a peça surgiu como uma oportunidade de desviar sua atenção da perda de sua irmã?
“Já estava ensaiando no Candido Mendes, que é ao lado da casa dela. Então, eu passava por lá, ía para o ensaio e voltava pra vê-la. Nos últimos dias era inacreditável estar ensaiando esquetes com ela mal. Mas Marília era realmente uma mulher extraordinária, ficava aflita que eu estivesse bem, tentava não precisar de ajuda! Foram dias péssimos de se ensaiar esquetes, mas também eles fazem a vida parecer normal na ausência dela”.
Por que a Marília abandonou os ensaios de “A Atriz” quase na véspera da estreia da peça? Ela tinha esperança de se recuperar?
“Ela retirou-se de um projeto que ela queria muito, traduziu, empenhou-se! E enquanto ensaiamos na casa da Bibi Ferreira, foi muito criativo e ela estava bem contente. Tudo começou a ficar frouxo, quando entramos no teatro. Ela sempre foi perfeccionista, detalhista ao extremo e em algum momento nos ensaios ela machucou mais o quadril! E aí começaram a sair algumas notas maldosas e mentirosas a respeito dela! Enfim, nada que seja gostoso de lembrar agora”.
Que tipo de neuroses você interpreta na peça?
“Temos um repertório vasto de personagens, neuróticos, ridículos, absurdos, nada que tenhamos tempo de aprofundar! Só uma grande brincadeira, de, no máximo, uma hora e cinco minutos em 18,19 esquetes”.
Você acha que o carioca tem muitas neuroses?
“Difícil generalizar, mas ando pelas ciclovias todos os dias. Pensando como ciclista, tenho observado que os cariocas têm uma pressa desesperada para chegar ali. Nada os detêm, nem sinal, nem pedestres, nem idoso, nem bebês! Se isso é um tipo de neurose…”
Gosta de ser lembrada pela sua participação nas Frenéticas?
“Gosto, sim! Fiz parte de um momento importante da nossa música!”
Ficou feliz quando a Amora Pêra, sua filha, se decidiu por ser cantora?
“Orgulhosa! Ela tem uma voz linda, escreve, compõe e gosta disso!
Foi sua a direção do maravilhoso musical “Elas por Ela” e do show ‘Baiana da Gema”, da Simone. Quando vamos ter oportunidade de vê-la em ação nessa área, novamente?
“Não sei. Fui convidada para dirigir em BH, cidade onde um espetáculo que dirigi há 18 anos está em cartaz até hoje, “Acredite, um Espírito Baixou em mim”. Agora me chamaram para dirigir “Brincando Em Cima Daquilo”. Adorei e comentei com minha irmã, que fez extraordinariamente em 1984. Ela ficou toda feliz! Acho que o produtor Rômulo Duque està às voltas com patrocínio”.
Não se casou novamente por opção? O que acha da atual safra dos homens cariocas?
“Não me casei novamente, não. Não me casei! Gosto de namorar, muito, mas todo mundo voltando pra casa. Não acho nada da safra, gosto de gente interessante, engraçada e, às vezes, fora do padrão. Sou feliz assim!”