Nos trabalhos de Joaquim Nabuco, chama atenção a presença absoluta de Deyse Krieger, sua mulher. Juntos há 13 anos, ela se tornou a grande musa do namorado, mostrando seu talento físico em vários livros – eles trabalham, comem e dormem juntos todos os dias. A história até parece clichê de romance de sessão da tarde: “fotógrafo faz trabalho com modelo e os dois se apaixonam” – não fosse tudo verdade. No entanto, em tudo está a voz, a opinião, a beleza de Deyse; por exemplo, na adaptação do fotógrafo à atualidade, digamos assim, como a maioria dos brasileiros. Sempre com agenda lotada, fotografando campanhas para as principais agências de publicidade do País, capas de CDs, catálogos de moda para marcas nacionais e internacionais etc., ele viu sua cartela de clientes diminuir, mas decidiu investir num mercado em ascensão: a foto artística.
Agora, o casal comemora os nove meses de sucesso da “Cinza Photogallery”, no Fashion Mall, em sociedade com ela. Além disso, em três anos, ele lançou, em parceria com a editora americana Schiffer Books, o “Braziliangels” (2010), “The Art of Brazilian Architecture” (2102) e “Paradise in Brazil” (2013). No momento, o bisneto do abolicionista Joaquim Nabuco está com dois livros já prontos: um, sobre a cidade de Veneza, na Itália, e outro, com imagens de modelos e animais selvagens – um dos seus temas prediletos -, ainda “na fila” para produção. Adivinha quem é a modelo? Sim, Deyse. Ele acha que, se você ama a pessoa e o trabalho…..
Você e romance e trabalho não brigam entre si?
Acho que tudo é uma questão de amor, tanto pela pessoa, quanto pelo trabalho. Se você ama os dois, a coisa flui melhor. É preciso tomar cuidado para não deixar que interfira: respeitar a pessoa, para ser respeitado. Acho que é assim que funciona. A coisa tem que ser recíproca.
Quando vocês descobriram que isso não seria um problema?
Nos conhecemos durante um trabalho e, depois de dois meses, começamos a namorar. Então foi uma coisa natural, continuar trabalhando juntos.
Em nenhum momento pode ser um risco para o casamento?
Acho que passar o dia trabalhando com ela e depois irmos para casa juntos é o melhor teste para saber se você ama mesmo. Se você ficar enjoado depois de um tempo, é sinal de que não gosta. Mas quando você tem prazer em passar o dia junto e não quer se separar depois que termina o expediente, é sinal que ama mesmo. Quem ama não enjoa. Acho que risco é passar muito tempo separado, e não junto.
É fácil não levar os problemas profissionais para a cama?
Eu acho fácil, pois minha profissão não é muito problemática. Vejo mais a fotografia como uma arte do que um trabalho. Se eu fosse médico, advogado, ou alguma profissão que lida diretamente com problemas, talvez fosse mais difícil.
Cite as maiores vantagens dessa relação pessoal-profissional.
Pelo lado profissional, trabalhar com quem você gosta ajuda na qualidade do produto final. Quando uma equipe não tem afinidade, o trabalho não rende. Acho que, quando existe parceria e cumplicidade, um ajuda o outro a crescer profissionalmente – como aconteceu com David Bailey e Jean Shrimpton, que inspiraram o filme “Blow-Up”. Costumamos trabalhar juntos em trabalhos comerciais e também em projetos pessoais nossos, como quando viajamos pelo Brasil, fotografando com animais selvagens. Pelo lado pessoal, temos oportunidade de passar mais tempo juntos.
Quais as dicas para não desgastar a relação?
Acho que o mais difícil é saber equilibrar trabalho e romance. Às vezes, o trabalho suga muito sua energia e desgasta o romance. É preciso se policiar. Tem horas em que você precisa esquecer o trabalho e tirar um tempo para curtir só a pessoa amada.
Como a crise o atingiu?
De 2010 a 2012, lancei três livros e peguei a fase boa pré-Olimpíada e Copa do Mundo, em que todos os olhares estavam para o Brasil. Depois, o interesse pelo País caiu, e o mercado de livros e o publicitário começaram a diminuir.
Mas como abrir uma galeria, num local nobre, no meio da crise?
Abri na contramão da crise; com isso, você tem possibilidade de crescer. Temos que aproveitar este momento para solidificar a marca e, quando tudo melhorar, você já tem um nome no mercado. Continuo fazendo trabalhos e estou muito focado no mercado de arte, porque a fotografia, em geral, caiu muito por causa da tecnologia, principalmente os celulares. Hoje em dia, qualquer um se acha fotógrafo.