Casada há 36 anos com Gilberto Gil, a paulista com espírito carioca e jeito de baiana Flora Gil tem com o cantor e compositor, além de Bela, Bem e José, mais um quarto filho: o Camarote Expresso 2222, que eles estão comandando pela última vez, em 19 anos, neste carnaval baiano. A partir de agora, quem estará à frente é a cantora Preta Gil. O Expresso 2222 vem sendo, por quase duas décadas, o espaço mais bacana para se participar do carnaval de Salvador, para onde todos sempre quiseram ser convidados. Essa mistura de pessoas de vários círculos com clima familiar e afetuoso foi, digamos, uma das receitas criadas pela empresária Flora Gil ao longo do percurso – as outras? Ela não ensina nem morta. Muitos estrangeiros conhecidos e admirados estiveram no Espresso 2222 em situações inesquecíveis. Flora pensa em escrever um livro contando suas lembranças, quase todas: as apaixonantes, as picantes, as deliciosas e, até um pouco das inconfessáveis. Talvez.
Foto: Vera Donato (acervo site Lu Lacerda)
Na coletiva do Expresso 2222 deste ano, você disse que o camarote sempre reuniu de puta à padre. Nesse percurso, que nomes você mais gostou de receber ali? “Gostei de muita gente, tantos queridos! Mesmo fazendo carnaval, Ivete Sangalo, por exemplo, faz questão de ir lá, mesmo trabalhando pra caramba! São muitas pessoas que gosto, que admiro, que já passaram por ali: o bispo Desmond Tutu, Quincy Jones, o Bono Vox, a rainha Silvia – é um camarote especial”.
Algumas cenas que tenham ficado no seu coração?
“Marcou meu coração o Bono cantando com um trio mais simplório, vindo do interior, que tinha ido fazer uma homenaem ao Gil – saiu de longe, veio e, de repente, estava cantando com o Bono Vox, que tinha ido pra varanda do camarote – isso me marcou bastante”.
Existe alguém que seja a cara do camarote, mas ainda não esteve por lá?
“A cara do camarote, mas nunca apareceu por lá, é a Madonna – ela é mesmo a cara do camarote! (rsrs)”.
Como vai acontecer a partir do ano que vem, os ingressos vão ser vendidos?
“Esse carnaval é o ultimo de cortesia para os convidados, um evento fechado, uma grande festa. Tanta gente que quer conhecer o Expresso – a partir do ano que vem, vai poder entrar no site e comprar. Vender é também democratizar, dar oportunidade de ser mais aberto”.
Qual a principal diferença entre um camarote baiano e um carioca?
“A diferença maior começa pelas atrações, o carnaval passando na frente deles possibilita ao convidado e ao folião do camarote ver os desfiles com os cantores bem ali. O carioca é podermos ver uma grande e famosa bateria – o carnaval do Rio com toda aquela riqueza, aquele brilho, aquele som, sou fã!Carnaval da Bahia é o cheiro do dendê, o cheiro do axé; o carnaval carioca, é a purpurina”.
Que elogios ao Expresso 2222 você mais gostou de ouvir?
“Ouço elogios todos os dias, o camarote é uma família grande. Reúne todas aquelas pessoas. Muitos falam: ‘Muito obrigada por eu estar aqui’ e você sente que é verdadeiro, não é um frisson de momento por podermos possibilitar a vinda deles até aqui e a participação no carnaval da Bahia”.
Num livro sobre o camarote o que não pode faltar?
“Num livro não podem faltar as conversas de banheiro – as mulheres ficam ali no espelho falando, por exemplo, da pegação que aconteceu ou vai acontecer, enfim, papo de banheiro!”
Que qualidades a Preta Gil tem como executiva para poder assumir o comando do camarote?
“A Preta tem a inteligência, sensibilidade e o entendimento do que é uma grande festa. O primeiro emprego dela foi trabalhar comigo num camarote que não era nosso, era da Antarctica, à epoca, do Nizan e do Zé Mauricio (anos 90), no Sambódromo. Ela é focada, sabe o que quer e certamente vai dar um show. Você vai ver o camarote bombando por aí e a Preta no comando”.