Guilherme Guimarães é um dos maiores nomes que a alta-costura brasileira tem (e teve). Não existe casamento desses assim mais incríveis em que seu nome não seja falado – se não está vestindo a noiva, está vestindo as mais elegantes e, muitas vezes, a família inteira. Desde criança, o gaúcho decidiu que seu futuro seria fazer roupas maravilhosas para mulheres maravilhosas; por isso, na escola, só se interessava em aprender inglês, francês e geografia, matérias que poderiam facilitar sua viagem a vários lugares do mundo.
Começou trabalhando na Casa Canadá, no Rio, e seguiu independente. Nos EUA, sua carreira teve como madrinha Loretta Scanell, diretora da revista “Town & Country”. No seu regresso ao Brasil, já estava consagrado. Convidado pela Rodhia, criou modelos com os tecidos sintéticos e participou da Coleção Brazilian Look, apresentada pela empresa no Brasil e no exterior. Nos anos 70, acabou se rendendo ao prêt-à-porter: lançou jeans, óculos e camisas masculinas com a grife GG. Sua moda foi vendida para o exterior (EUA e Alemanha) – vestiu a maioria dos grandes nomes. Trabalhou, também, para a Christian Dior no Brasil.
Com o perfil das clientes de alta-costura mudado, Guilherme resolveu dar novo rumo à sua carreira: hoje se dedica, basicamente, a noivas. Ativo, inteligente, bem-humorado, raciocínio rápido, gentil, polido, tem atelier no Rio e em São Paulo; no entanto, cansou das badalações, a ponto de nem ter celular e computador. Guilherme pode estar recluso, mas não perde o temperamento forte, que seus comentários sempre deixaram transparecer.
Como você vê nosso país neste momento?
“O Brasil está sem direção. Tudo leva a crer que não vai mudar enquanto essa presidente estiver no governo. Se a Dilma não sair até maio (é o tempo que dou), o País acaba. Lutar neste país mata qualquer um; está uma recessão sem tamanho. Todo mundo anda com medo até de casar – as pessoas estão inseguras, chega a esse ponto.”
O que mudou com relação a vestidos de casamento?
“Várias pessoas pedem roupas que não sejam caras; até o bordado caiu muito. Os fornecedores de tecido querem receber de acordo com o dólar, então, os preços subiram absurdamente. Muita gente está casando fora. Meu profissional é muito caro, e o bom trabalho exige profissional bem pago.”
Quantas noivas, em média, você faz por mês?
“Às vezes, duas; nunca mais do que isso, porque não dá.”
“O que acha das lojas que importam vestidos de noiva prêt-à-porter? Elas chegam a fazer concorrência com o seu trabalho?”
“Não tem concorrência; minha roupa tem a cara da pessoa. Não estou desfazendo do trabalho de ninguém, de jeito nenhum, mas é outra categoria. No corpo, é diferente: é uma alta-costura pra ela.”
Como você consegue viver sem celular e sem computador?
“Vivo muito bem, vejo a bina e ligo de volta. Se for atender a celular, eu enlouqueço. Acho horrível essa gente que está com alguém e fala no celular enquanto faz outra coisa.”
É verdade que você preferia dormir no hotel Glória a ter que desarrumar sua cama? Ainda gosta de ambientes muito arrumados? Que outras manias você tem?
“Não é verdade. Quando tinha obra no hotel, a Maria Clara (Tapajós) me cedia uma suíte lá. Na verdade, adoro decoração; minha diversão nos fins de semana é ver as revistas de decoração – essa é minha única mania. Mas sou organizadíssimo, tudo aqui é impecável. Uma coisa a que tenho horror é a cozinha – vivo em dois apartamentos, tirei a cozinha de ambos. Quando entro numa casa e tem cheiro de comida, enlouqueço. Nem café da manhã tem na minha casa; tomo café num botequim – adoro pão na chapa, que só botequim sabe fazer. Detesto também esses programas de gastronomia. Da TV, quem eu amo mesmo é a Renata Lo Prete – mas não sou de muitos amores. Já fiz figurino pro cinema também: vesti a Danuza Leão em “Terra em Transe”, do Glauber Rocha. Ela estava linda”
Muitas vezes, vc assumiu desafios na sua vida, por exemplo, quando, no início da carreira, aceitou fazer um desfile em Nova York.
“Comecei minha carreira no Waldorf Astoria, em Nova York. À época, saiu no “New York Times” que as as clientes de Guilherme Guimarães não precisariam mais ir a Paris pra comprar meus modelos. Morei oito anos em Manhattan.”
Quem você apontaria como modelo de elegância hoje em dia?.
“Tem famílias de muitas gerações elegantes, por exemplo, vesti Helô Willemsens; sua filha, Lia Neves da Rocha; as filhas da Lia, Christiana Neves da Rocha e Mercedes Orleans e Bragança; as filhas da Mercedes, Maria Francisca e Maria Antônia – estão aí quatro gerações. Outro exemplo é Carmen Mayrink Veiga, minha cliente e amiga há 50 anos. Essa é imbatível. Visto sua filha, Antonia, e a neta Maria (Frering); Heleninha Petraglia era muito elegante, tem também a Ilde de Lacerda Soares, as Monteiro de Carvalho, a Tanit Galdeano……. Ah, são muitas!”.
O que acha da moda no Rio? A ausência do Fashion Rio fez falta?
“O Fashion Rio acabou? Nunca fui ao Fashion Rio. Não é a minha praia; eu faço alta-costura.. ”.