![No alto, o quadro de Adriana Varejão '"Cena de interior II"; no centro e acima, exemplos da pintura erótica japonesa Shagun/ Fotos: reprodução](https://lulacerda.ig.com.br/wp-content/uploads/2017/09/H0669-L49914964.jpg)
Um dos curadores de arte mais respeitados do país, o carioca Marcello Dantas ficou atônito, como a maioria dos artistas, com o fechamento da exposição “Queermuseu”, que o Santander Cultural decidiu encerrar, em Porto Alegre, por pressão de grupos retrógrados. “O bestiário censurador no Brasil não consegue absorver a diversidade e nega, ao brasileiro, a possibilidade de conhecer um estilo de enorme valor”, diz Marcello, comentando uma das telas mais criticadas, “Cenas do Interior II”, de Adriana Varejão. O óleo, de 1994, foi atacado por retratar várias formas de sexo, incluindo cenas homoeróticas e zoofilia – Adriana retratou dois homens transando com uma cabra.
“O trabalho não visa julgar essas práticas”, declarou Adriana em nota. “Como artista, apenas busco jogar luz sobre coisas que muitas vezes existem escondidas. É uma obra adulta feita para adultos”. Dantas compara a pintura de Varejão com os desenhos Shunga do Japão (1603-1867). “Esses desenhos, base do mangá japonês, são respeitadíssimos e cultuados no mundo inteiro – em Tóquio existe um museu só para eles.
Dantas lembrou, também, dos trabalhos do americano Paul McCarthy, entre eles uma instalação que mostra Branca de Neve sendo estuprada pelos sete anões. “O mundo não acabou depois disso”. O curador conclui: “O banco perdeu muito em credibilidade ao se deixar amedrontar por um grupo. Devia ter havido, no mínimo, um debate com a sociedade antes do fechamento da exposição”.