Na relação funcional com a casa, nomeamos os espaços e, a partir daí, desenvolvemos um fluxograma e sua ocupação. Contudo, nada na vida é estático, nem mesmo a utilização da nossa casa. Com a pandemia, a permanência é maior, e tudo tem mudado muito. Na nova arquitetura, o novo pensamento é reformular os antigos métodos de projetar uma casa, principalmente internamente.
Atualmente, o morador tem a liberdade de descobrir onde mais gosta de dormir, cozinhar e trabalhar, o que está sendo muito mais importante do que as regras de distribuição dos espaços que os arquitetos aprendem na faculdade.
Quanto mais olhamos a casa, mais se torna evidente a necessidade de liberdade (total e individual) para cada um que vai ocupar esse espaço. Infelizmente, a construção tem suas limitações concretas e determinantes, por exemplo, um banheiro tem que ter instalações hidráulicas e elétricas; por isso, o local tem que ser predefinido e, de preferência, próximo aos quartos e bem ventilado, assim como a cozinha e a área de serviço. No entanto, até essa integração está cada vez mais livre e específica. Viva a diversidade do morar contemporâneo!
Ressignificamos os espaços cada vez mais: hoje, a cozinha “conversa” com a sala de estar, o quarto (até a cama), por muitas vezes, é o novo espaço de trabalho; trocamos o terno pelo pijama e por aí vai.
Perguntei à Antonia Leite Barbosa, autora da Agenda Carioca, sobre a ressignificação dos espaços públicos na cidade. “Nesta quarentena, meu marido ocupou o quarto onde funcionava o meu escritório, e eu me mudei pra sala, mais precisamente para uma ponta da mesa de jantar. Adorei estar mais integrada ao lazer da família, e por lá pretendo ficar permanentemente. Mas, de todas as mudanças e ressignificações que a casa sofreu, acredito que o que mais será lembrado por nós, daqui a alguns anos, serão as noites de ‘acampamento’, que surgiram da vontade de criar para os meus filhos, Felipe e Lucas, algo lúdico e uma memória afetiva desses tempos tão difíceis. Virou um ritual sagrado eles dormirem no quarto do casal nas noites de sábado. Contam os dias e se divertem como se estivessem partindo semanalmente para uma grande aventura. Comprei uma barraca de camping de verdade, mas a montagem dava muito trabalho, e ultimamente ando simplificando apenas com dois colchões. Mesmo assim, temos direito a lanterna, garrafa de água e noites de ‘cinema’ com direito a muita pipoca.”