Diretor de criação e estilo da Osklen, hoje uma das marcas de moda que mais traduzem o estilo carioca e uma das poucas do Brasil conhecidas internacionalmente, o médico, fotógrafo e documentarista Oskar Metsavaht é, também, um dos maiores defensores da cadeia produtiva do setor.
Nesta semana, o grande evento da cidade carioca é o Rio Moda Rio e, é claro, o fundador do Instituto-e não poderia estar de fora, com desfile na sexta-feira (17/06). Leia aqui um pouco mais sobre esse gaúcho de Caxias do Sul, nomeado Embaixador da Boa Vontade da Unesco, que é, hoje, um dos mais respeitados empreendedores de moda.
No que o Rio Moda Rio pode dar uma mexida no cenário carioca?
“Pode revitalizar o Rio como um polo de economia criativa, setor em que a moda é um dos principais atores junto ao cinema e televisão, além de outros. Pode, também, informar e educar a sociedade de que a moda faz parte da cultura tanto quanto as artes plásticas, a música, a literatura etc. Que ela é uma expressão de origem artística e que a criação autoral e original devem ser prestigiadas e diferenciadas de outras que se dizem fazer moda. Diferenciar Moda com M maiúsculo de moda. Fazer roupa não é fazer Moda. Copiar não é fazer Moda”.
Você já comentou que a moda brasileira não existe – é verdade? Não existe pelo menos um estilista nacional que você acredite ser um criador autêntico?
“Não falei assim. Disse que não existe uma Moda Brasileira em termos estilísticos e reconhecida internacionalmente, isso é um ufanismo nosso. O que existe é a expressão de moda por criadores brasileiros. Moda é a expressão através de um olhar de um criador. E sim, existem criadores autênticos no Brasil. Vários. Ótimos”.
O que na Osklen são características que podem ser vistas, no exterior, como uma marca brasileira?
“Bem, assinamos o nome Rio de Janeiro embaixo da marca. E há vários temas de coleções que são inspirados na nossa cultura”.
No Rio tem uma camada de jovens que adoraria usar os produtos da sua empresa, mas não têm dinheiro pra isso. Já pensou em lançar uma linha, digamos “moda rápida” ou uma versão mais popular da marca?
“No mundo existem pessoas das mais variadas classes econômicas. E que não podem consumir produtos e serviços mais sofisticados porque, por serem mais custosos para a sua elaboração, têm um preço mais alto, obviamente. Não me interesso e assim, a Osklen, em desenvolver produtos de baixa qualidade. Eu e minha equipe de estilo nos dedicamos a uma criação autoral e original que nos dá bastante tempo de pesquisa e elaboração. Esse tempo e qualificação de designers a que nos dedicamos é bem mais custoso do que irmos para a Europa e EUA e ‘pesquisarmos’ em outras marcas, comprando as suas peças e trazendo para copiar aqui no Brasil.
Vejo que a percepção da nossa originalidade e qualidade não são reconhecidos aqui, pelos cariocas. Creio que não entendem como uma marca fundada, criada e confeccionada por cariocas não pode ser uma marca de luxo. E que talvez por ter ícones como a pele de peixe, ou a confecção em comunidades de baixa renda, o surf e o skate e as favelas do Rio ou a nossa praia como referências, achem que isto não seja luxo. O luxo do século 21 é diferente. Tem a inclusão e a sustentabilidade. E ser sustentável é consumir menos e melhor.
Então a minha sugestão é que as pessoas que não possam consumir produtos mais caros é que, em vez de comprar mais e mais roupas que sejam cópias e de baixa qualidade, que façam suas escolhas conhecendo melhor a história da marca, pela sua originalidade, pelas suas propostas junto à sociedade, pela qualidade dos materiais, pela sua sustentabilidade. Comprar marcas de fora por trazerem um status de luxo ou por serem mais baratas, isto não é entender a Moda. É seguir um consumismo ultrapassado.
Que tipo de consumidor tem em mente quando lança uma coleção? Quantos por cento têm de peças que você próprio vestiria?
“Pensamos em pessoas que tenham o mesmo nível sócio-cultural que o nosso. Sobre o que eu visto, você sabe, Lu, que visto praticamente só Osklen. Quanto ao percentual da coleção que visto, há peças que talvez já não combinem com minha idade. Mas vestem meus filhos”.
Como a empresa se adaptou à crise? Ou não existe crise para a Osklen?
“Claro que há crise. Mas vislumbramos que após esta fanfarra de dólar baixo, onde todos nós consumimos tudo o que o mundo nos oferecia, de China a Europa e os EUA, nossos guarda-roupas ficariam iguais aos dos chineses e dos russos. Países emergentes e pessoas emergentes a consumir. Quando este efeito passasse, como agora, onde os preços relativos passaram a ser mais reais, imaginamos que nossos clientes voltariam a comprar em nossas lojas se continuássemos melhorando cada vez mais nossa criação e qualidade. De que reconhecessem isso e começassem a ver o quanto um produto ‘created and made in Brasil’ é a coisa mais contemporânea na moda hoje em dia. Que os estrangeiros que não têm este preconceito se admiram e compram nossos produtos como uma das novas grandes marcas. Então, dessa forma, estamos passando esta crise com aumento das vendas, sim.
Você vendeu parte da sua grife – muitos que fizeram o mesmo ficaram infelizes. Com você aconteceu o oposto, não é?
“Sim. A minha parceria com a Alpargatas e seus acionistas foi uma bela aposta nossa. Não foi uma venda e sim uma sociedade. Temos um ótimo alinhamento em gestão e criatividade”.
Algumas empresas nacionais oferecem produtos a artistas estrangeiros em busca de visibilidade para suas marcas. Você faz uso ocasionalmente dessa estratégia?
“Sim, fazemos. Mas talvez pela Osklen já ser conhecida e de uma certa forma uma novidade e exclusividade, as personalidades internacionais já vão à Osklen com o intuito de comprar. Para ter uma ideia, na última AmFar, em São Paulo, o Marc Jacobs, quando chegou do aeroporto no Fasano, deixou as malas e foi direto, de manhã ainda, na loja da Oscar Freire comprar alguma peças. E ele compra para ele usar. Não para copiar”.
No Instagram da Osklen foi postada recentemente uma imagem de um skate de pele de pirarucu. Esse é um dos novos materiais com os quais a Osklen vai trabalhar com frequência?
“Acabamos de lançar em nosso showroom em Nova York a exposição do projeto ‘A21 – Practice #1 – sustainable fish skin – Amazon Region’, onde apresentamos toda a cadeia de produção do couro de pirarucu e de nossa criação de acessórios e calçados. E que é já considerado um dos símbolos do ‘New Luxury’. Estamos recebendo desde professores de Harvard, FIT e Colúmbia até as revistas de moda como Vogue, Elle, V e outras. E também as diretoras de moda da Bergdorf Goodman, da Neyman Marcus etc”.
Você tem esperança num futuro próximo mais sustentável para o planeta?
“Para mim já entramos neste caminho. Não há mais volta. Seremos um belo planeta”.