Prontos para sentar a bunda, roer as unhas e torcer pelo seu predileto no Oscar? Neste domingo (25/04), o escritor Artur Xexéo é, mais uma vez, um dos comentaristas da transmissão da 93ª cerimônia, na TV Globo, às 23h35, com a jornalista Maria Beltrão (sua colega também no Estúdio I, da GloboNews) e a atriz Dira Paes. Com eles, é noite para emoção um tom acima.
Pela pandemia, a entrega das estatuetas vai ser numa famosa estação de trem, a Union Station, a 13km do Dolby Theatre, onde tradicionalmente a festa acontecia.
No ano passado, Xexéo chegou a ter um programa só seu, o “Cine Xexéo”, na “Edição das 10h”, do GloboNews, antecedendo as expectativas pelo “careca” mais desejado do Planeta.
A covid deixou tudo diferente; provavelmente, vai mudar a história do Oscar. Os fãs de cinema não puderam pisar numa sala, mas as produções continuaram sendo lançadas de outras maneiras, principalmente por streaming — nunca a premiação conseguiu tanto alcance em relação ao fato de o público poder assistir aos indicados, praticamente todos disponíveis a um “play” no seu controle, fazendo-nos esquecer seringas, leitos, CTIs e por algumas horas, medo — só aquele vindo da ficção.
Vamos comer brigadeiro, talvez emborcando algumas tacinhas, sem remorso do passado recente nesta fase de desencanto, ouvindo Xexéo, Maria e Dira, achando que, quem sabe, o futuro possa ser surpreendente como no cinema.
Cinema pra você é prazer e trabalho, nessa ordem?
Cinema é sempre prazer. Quando se torna trabalho, é trabalho com prazer.
Como e quando você começa a se preparar para comentar o Oscar? De onde vem esse tesão cinematográfico?
A preparação para o Oscar começa em setembro do ano anterior. É quando eu vou atrás dos filmes que se destacaram nos festivais e no que a imprensa americana está dizendo sobre os prováveis indicados ao próximo Oscar. Essa preparação se intensifica quando os críticos dos principais jornais dos Estados Unidos publicam suas listas de melhores do ano. São os primeiros favoritos para receber uma indicação. A coisa se acelera quando saem os indicados dos prêmios dos sindicatos de cada categoria. Aí você consegue desenhar como serão as indicações do Oscar. Vira uma correria com a revelação dos indicados ao Oscar. A partir daí, não dá pra pensar em outra coisa.
Qual a importância do cinema na sua vida? E o que significou nesse último ano com pandemia?
O cinema sempre foi importante na minha vida. Não fui uma criança de ouvir rádio, ver TV ou ler muito, mas ia ao cinema três vezes por semana. Adolescente, posso dizer que ia ao cinema diariamente. Morava numa vila militar que tinha um cinema que mudava a programação todos os dias. Depois, virei cineclubista, o que me fazia estudar os filmes para promover debates com o público. Cheguei a ser de três cineclubes diferentes simultaneamente. Não consigo me lembrar de alguma época da minha vida que não seja marcada pelos filmes que eu vi; na pandemia, não foi diferente. Já era adepto do streaming, e a quarentena só fortaleceu o meu hábito de ver cinema em casa.
Para comentar, é preciso assistir a tudo. Isso chega a ser sofrido?
Não dá para ver tudo. Este ano, são 56 filmes diferentes indicados a, pelo menos, uma categoria do Oscar. Vi 32 e hoje, antes da cerimônia, pretendo ver o 33º. No entanto, seria um prazer maior se eu conseguisse ver os 56. Nunca é um sacrifício: gosto de ver até filme ruim.
Naquele tempo em que você ficou fora do mundo (Xexéo viveu a experiência de quase conhecer o outro plano, digamos assim, em 2016), ao acordar, quando se deu conta da existência do cinema?
Acho que foi imediato. No dia em que tive alta, comecei a ver em casa a série “Strange Things”, que tinha estreado durante minha “ausência”.
Muitos dos indicados — como “Nomadland”, “Meu Pai” e “Bela Vingança” — podem ser interpretados como deprimentes, tristes ou sombrios. Mas, como disse Steven Soderbergh, em tempos de pandemia, a Academia não quer que o evento “soe a mensagem errada”, esperando que isso não lembre a “dor e o deslocamento” que as pessoas têm sentido desde o ano passado. Comente.
Não acho que esses filmes sejam tristes ou deprimentes, sombrios… Talvez tenham aspectos sombrios, mas não seria a primeira vez que a Academia destaca filmes com essas características. No ano passado, quando o Oscar aconteceu em fevereiro, sem exibir nenhuma consequência da pandemia, a Academia celebrou o filme coreano “Parasita”: este, sim, é triste, deprimente e sombrio. O Oscar sempre prestigiou o glamour. Não faz sentido uma entrega da estatueta preocupada com o coronavírus. Tanto é assim que o primeiro anúncio do produtor da cerimônia, o cineasta Steven Soderbergh, foi o de que não haveria agradecimentos por zoom, estilo que marcou outras entregas de prêmios nos últimos 12 meses e que remete imediatamente a um dos dogmas da pandemia, o do “fique em casa”. Soderbergh não quer nenhum indicado em casa – a festa vai ser totalmente presencial. O Oscar vai tentar combater o vírus com glamour. Ninguém corre o risco de ver um premiado receber a estatueta, vestido com pijama.
Existe algum, digamos, sofrimento artístico, quando o filme ou o seu artista preferido não é o vencedor?
Como em qualquer eleição, há sempre vencedores que não merecem, mas isso faz parte de qualquer escolha por maioria de votos. Não é porque o processo é democrático que o resultado não pode ser contestado — temos todo o direito de reclamar.
O Brasil, mais uma vez, ficou fora da disputa de Melhor Filme Internacional. Concorria a uma vaga com o documentário “Babenco: Alguém tem que Ouvir o Coração e Dizer: Parou”, de Barbara Paz, que não conseguiu passar pela fase eliminatória, e “Bacurau”, com vários prêmios, que também tentava uma indicação. Falta muito pra gente? Como você avalia a passagem do Brasil em 93 edições do Oscar?
De Ary Barroso, que foi indicado para um Oscar de melhor canção original em 1945, à Petra Costa, que dirigiu “Democracia em Vertigem”, indicado ao Oscar de melhor documentário no ano passado, eu até acho que o cinema brasileiro foi bem nesses 93 anos de prêmio da Academia. E é bom lembrar que William Hurt ganhou seu Oscar de melhor ator com um filme metade brasileiro, “O beijo da mulher aranha”.
Fernanda Montenegro foi injustiçada lá, em 1999, quando não ganhou como Melhor Atriz por “Central”, perdendo para Gwyneth Paltrow?
Sabe, eu acho que, se fosse hoje, a Fernanda ganharia o Oscar. “Central do Brasil” concorreu em 1999. De lá para cá, a Academia realmente renovou seus quadros, tanto que a favorita para o Oscar de coadjuvante, este ano, é uma atriz coreana, Yuh-Jung Youn. Ela é a Fernanda de 2021 — só que deve ganhar.
And the Oscar goes to…
… Chloé Zhao, a diretora de “Nomadland”. É a maior barbada deste ano.