Costumo falar por aí que sou “gaveana”. Amo profundamente meu bairro e minha cidade, apesar de ter sido na Gávea que passei por uma das maiores dores da minha vida: quando perdi minha mãe, Tintim, tão querida e tão alegre, de forma trágica, depois de sacar dinheiro em um banco, no mesmo bairro, para pagar aos funcionários do Guimas, nosso restaurante.
Morreu na Praça Santos Dumont, ou seja, no nosso “quintal”. Jamais vou esquecer a cena, nem do que senti naqueles momentos seguintes, nos dias seguintes, nos meses seguintes, até esses quatro anos, completados em julho. A cena era mesmo impressionante para qualquer um, fosse do país que fosse – imagina para uma filha.
Às vezes, até hoje, percebo alguns olhares solidários nas ruas; nessas horas, imagino: todos sabem a tragédia que viveu a minha família, mas espero que jamais saibam o tamanho da minha dor, sim, jamais desejaria a qualquer criatura no mundo que passe pelo que eu passei. Durante bastante tempo, as pessoas ficaram a me perguntar se eu não sairia do bairro. Mas como? Desistir da nossa história nunca esteve em questão. Foi aqui que meus pais e amigos se estabeleceram e cresceram profissionalmente e onde aprendi tudo que sei e faço. Minha mãe me ensinou a correr atrás do que me faz feliz e não desistir, a nunca baixar a cabeça. Quando passo no local onde aconteceu o crime, em pleno Baixo Gávea, levanto minha cabeça, rezo uma Ave Maria e sigo em frente. Faço isso várias vezes ao dia, praticamente todos os dias, sim, aquele trecho faz parte do meu caminho.
Ela também perdeu o pai da mesma forma, num assalto, há 30 anos. Como é que pode? Tudo igual. Certa vez, num restaurante, ouvi uma senhora falar que dois raios nunca caem no mesmo lugar. Parei e falei pra mim mesma: como não?!
Como minha mãe, sigo em frente, com a força que ela me deu. Costumo refletir sobre a violência no nosso querido Rio e, do fundo do meu coração, o que mais desejo é que a geração dos meus filhos esteja livre de viver semelhante tragédia ou história tão cruel. Esse relato foi um desafio, mas levantar a cabeça e seguir continua sendo meu lema. Viva a Gávea!
Domingas Mascarenhas é empresária, viveu na pele a violência com a morte da sua mãe, Maria Cristina Bittencourt Mascarenhas, a Tintim, no dia 17 de julho de 2014, um crime que chocou o Rio.
Relato muito emocionante, deixando sempre a certeza de que desistir, mesmo que muito dificil, JAMAIS.
Parabens Domingas.Estou sem palavras.
Veja o relato de alguém que conviveu com o socialismo desde a ditadura militar:
http://carlosliliane64.wixsite.com/magiaeseriados/um-relato-pessoal
Mingota,amada,exemplo de força.Te amo muito, sabes bem disso.Beijos mil.
Timtim, tambem adorava a Gávea… tenho certeza que ela está feliz por voce não tr abandonado o bairro dela… Sua dor, será eterna, mas saber que teve uma mãe tão maravilhosa, que ninguem esquece … é um pequeno consolo…
Ai fica a grande pergunta será que se eles pudessem portar arma teria acontecido esta tragédia?? E não digo dele ou dela matar o bandido, mas os bandidos ficarem mais preocupados para abordar alguém…. é preciso proteção, tiramos as armas do povo, mas nunca tiraremos dos bandidos, e já digo desde já não sejamos demagogos, está é a realidade e sempre será, o cara mau terá sempre uma arma.
Querida, muito emocionante o seu depoimento.
Sabe…você perdeu sua mãe e eu perdi minha filha.
Dores que são pra sempre.
Mas vejo que você tem fibra e terá coragem para manter esse seu sorriso lindo para sempre também. Um abraço carinhoso.
Infelizmente, o problema do Hell de Janeiro são os próprios cariocas coniventes com as favelas que são verdadeiras incubadoras de marginais…
Não agradou minha mensagem, por isso não postastes?? Doe ouvir a verdade??
Emocionante demais