Um dos motivos de ter apoiado publicamente Jair Bolsonaro foi acreditar que ele harmonizaria o País, que superasse o “nós contra eles”, da era lulopetista. Foi uma decisão praticamente solitária do ponto de vista da classe artística, pois a maioria absoluta votava em candidatos da esquerda. À época, Bolsonaro era o único sem ruído algum na Lava Jato, e, dada a avalanche de corrupção praticada pelo lulopetismo, não ser corrupto passou a ser um valor absoluto. Acrescentem-se nomes como Sergio Moro e Paulo Guedes na equipe, e sua candidatura surgia como a mais viável naquele momento.
Bem, não foi assim.
Não sabia que, ao votar em Bolsonaro, teria que suportar a franquia filial com total ascendência sobre o presidente. As pessoas estão morrendo, e a preocupação dele é livrar seus filhos e seu projeto eleitoral. O resultado é a prematura falência de um governo que se sabotou por incapacidade de Bolsonaro para o cargo, frustrando milhões de brasileiros e sua esperança em um país do qual pudéssemos nos orgulhar.
Quando Luiz Henrique Mandetta foi demitido, eu escrevi no meu Facebook que estava tentando defender Bolsonaro, não tanto por ele, mas pela normalidade das instituições. Mas ele desautorizar publicamente o ministro da Saúde por ciúmes? E também que ele sempre elege um inimigo, seja real ou imaginário. E ai de quem, em sua equipe, comece a destacar-se pela competência: é fritado e expelido sem remissão; e ele sempre vitimizado, “traído” por aqueles em “quem tanto confiou”. Reparem em quantos companheiros de longa data foram descartados como se fossem simples peças de reposição.
Agora ele cometeu crime de responsabilidade. Inventou, primeiro, que o Valeixo (ex-diretor da PF) queria sair — mentira; segundo, que a exoneração teria assinatura do ex-ministro Sergio Moro, que negou em entrevista. Agora, vai nomear alguém da Polícia Federal que vai ficar a serviço dele. Estou indignado! Preocupo-me, em plena pandemia, constatar a insensibilidade de Bolsonaro em criar uma crise institucional quando tantas mortes são computadas como números. Seu único objetivo, que não consegue mais disfarçar, é sua reeleição em 2022. Pena.
Carlos Vereza é ator premiado, foi um dos poucos artistas destacados, nacionalmente conhecido, a apoiar Jair Bolsonaro. Foto: reprodução TV Globo