Hans Donner, o designer alemão mais carioca de todos, entende muito de tecnologia, logomarca, tempo e espaço… Como já falamos aqui, é criador do logotipo mais famoso do Brasil, o da TV Globo, e de inúmeras aberturas de novelas e programas. Mas e de carnaval? Afirmativo! Não por isso, é casado, desde 2002, com Valéria Valenssa, a eterna Globeleza, e também não aprendeu a sambar; sua área é outra.
Hans assinou a identidade visual do camarote Incentivo Brasil, do francês Alexis de Vaulx, com o tema “Energia de um Novo Tempo” – tudo a ver com o seu novo projeto, o relógio Onne, que ocupa 3,5 m do teto do lounge principal. Hans também ajudaria a desenvolver o enredo da Mocidade Independente ao lado do carnavalesco Alexandre Louzada, mas, por falta de verba, o projeto não andou; o tema seria “Eu sou o tempo. Tempo é vida”, ou seja, tudo a ver.
O que veio primeiro? A programação visual do camarote ou o convite da Mocidade para ajudar a criar o enredo com o carnavalesco Alexandre Louzada?
No ano passado, dei uma palinha no Camarote Arpoador e criei o sol como personagem principal porque, na praia do Arpoador, as pessoas aplaudem o sol. Este ano, o Incentivo Brasil vai falar sobre energia sustentável, que vem da água, do sol e do vento, sob o tema “Energia de um Novo Tempo”. A ideia com a Mocidade não se concretizou porque é muito difícil motivar a iniciativa privada a entrar com dinheiro. O tema da escola é “Eu sou o tempo. Tempo é vida”, e o Louzada estava trabalhando nisso há uns dois anos. Eu colocaria o ponto final na história do tempo com um carro alegórico, uma imagem moderna. Eles ficaram loucos com a ideia porque eu consegui resumir todo o tempo na vida do homem com um design incrível, o homem derrubado por ponteiros…
A avenida do samba te emociona?
Já fui tema de escola há 20 anos, na Mocidade Alegre, em são Paulo. Já vivi um momento que nenhum gringo viveu até hoje.
Sendo alemão, como surgiu sua paixão pelo samba? Alguma história curiosa com a Sapucaí?
Caramba! Minha história com a Sapucaí é linda e começou lá atrás, quando vi o Joãosinho Trinta ganhando em 1975 (pelo Salgueiro). Uau, foi demais! Antigamente era tudo lotado, fui sendo empurrado para cima e, quando estava no topo, fui empurrado para baixo. Uma mulata linda me viu desesperado e me salvou de ser jogado pra fora da arquibancada.
Aprendeu a sambar, ou essa parte você deixa para a Valéria (Valenssa)?
Realmente, custei a aprender a sambar, mas tive a melhor professora do mundo, a minha mulher; facilitou quando descobri que o esqui tinha o mesmo molejo do samba. Quando levei a Valéria pela primeira vez à Áustria, para esquiar, ela ficou petrificada diante de uma montanha de 3 mil metros; isso sem nunca ter visto neve antes. Levou uns tombos violentos, mas, no segundo e terceiro dias, vieram me perguntar como era possível alguém da cor de chocolate esquiar como uma profissional. A história se espalhou e foi parar na TV austríaca; gravaram esquiando, mas também dei umas imagens dela sambando e comprovei de vez que esqui e samba têm o mesmo movimento. E cor de chocolate, na neve, fica mais bonito ainda.
Aliás, uma das suas principais criações foi a vinheta da Globeleza, em que Valéria ficou por 15 anos. Qual a explicação?
Disciplina, cabeça e ajuda da natureza.
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