O jornalista Bruno Astuto faz noite de autógrafos, nesta quinta-feira (30/06), no Copacabana Palace, do livro “In the spirit of Rio”, que será lançado na França, dia 5 de julho, com o título “La légende de Rio”. Trata-se de uma edição impecável da editora Assouline, que já publicou, na mesma coleção, livros sobre Capri, Cannes, Miami e Saint Tropez, dentre outras cidades conhecidas. Bruno diz que quis fazer do Rio um personagem, para mostrar aos estrangeiros todas as nossas peculiaridades, desde a época do Império português até o carnaval, dicas de restaurantes, lugares e, principalmente, o jeito de ser do carioca, natural e espontâneo. O prefácio é do escritor Paulo Coelho.
Sua intenção foi mostrar, no livro, a história recente de um Rio alegre e glamuroso. O Rio atual está menos atraente? Foi por esse motivo que você optou por fotos de arquivo?
“Imagina! Mais da metade das fotos do livro é de imagens atuais. Adoro o glamour do passado, mas essa mania de mostrar o Rio só em tons sépia não é comigo. Felizmente, tive livre acesso ao arquivo do jornal O Globo e acho que essa é a primeira publicação internacional que se preocupa em evidenciar a riqueza desse acervo, ao invés de só garimpar na Biblioteca Nacional. Tem cada foto espetacular, que foi difícil escolher”.
Tudo o que recomenda você já testou pessoalmente? Como foram suas idas ao Maracanã e a centros de umbanda?
“Experimentei quase todas, fora subir a Vista Chinesa de bicicleta; prefiro ir de carro. Já fui ao Maracanã para ver os shows da Madonna e, vá lá, um único jogo de futebol. Não indico no livro centros de umbanda específicos, mas falo da importância cultural, espiritual e até musical do sincretismo na história da nossa cidade. Fui a centros quando pequeno; meus pais eram meio umbandistas, meio católicos. Carioca que não se arrepia num batuque ou não faz pedidos para Iemanjá precisa rever sua cidadania”.
A Carmen Mayrink Veiga já disse que é impossível para uma pessoa pobre ser elegante. Acha que a carioca que se veste mais despojadamente pode ter estilo e elegância?
“Em termos de elegância, a carioca é a parisiense da beira-mar. Ao contrário do que as pessoas imaginam, a parisiense não sai de alta costura para comprar baguette; ela coloca um jeans, uma jaqueta, um écharpe, o cabelo propositalmente bagunçado e vai. A carioca também tem esse estilo desencanado-chique no dia a dia. Se você vai ao Sushi Leblon de grife dos pés à cabeça, as pessoas olham meio de banda, como se você fosse um ET. O Rio é a única cidade do mundo que sabe se vestir à beira-mar. Na Côte d’Azur, na Riviera italiana e no Caribe, você sempre se depara com uma gringa de bronzeado abóbora e um biquíni bizarro ou um cara de camisa florida. O guarda-roupa da carioca é sutil e poético. Aqui você só não pode usar linho, porque engruvinha na umidade e não existem tinturarias no Rio que saibam lavar ou passar perfeitamente o linho. Agora essa história de elegância e pobreza não existe. Se elegância tivesse a ver com dinheiro, o cabelo do Trump estaria penteado e a Imelda Marcos seria capa da Vogue. E a mulher mais elegante do Rio hoje para mim é a Squel, porta-bandeira da Mangueira”.
Nem todas as festas citadas por você como memoráveis na cidade você teve idade para conhecer. Você considera uma pessoa nostálgica? Gostaria de ter frequentado as festas cariocas das décadas de 40, 50, 60?
“Supernostálgico! Não é à toa que escrevo há 10 anos na Vogue uma coluna chamada Nostalgia. Mas não tenho essa vontade de viajar no tempo, não. Prefiro imaginar essas festas, fantasiar sobre elas. Vai que eu me decepciono (rs)”.
Quanto tempo de dedicação ao livro? Qual a maior alegria nesse percurso?
“Escrevi o livro em 15 dias. A escrita sai do meu coração direto para a mão e peguei prática com tantas revistas para que escrevo. Terrível foi encontrar as imagens, obter todas as autorizações. O estado dos nossos arquivos é deplorável. Não temos nenhum respeito pela nossa memória e a burocracia é estúpida. A maior alegria é poder contar aos gringos que aqui não tem só bolinho de bacalhau e chope – que eu, por sinal, adoro -, mas gastronomia de alto padrão, histórias memoráveis, tesouros colonais e um povo que, apesar de todas as maldades que fazem com a nossa cidade, é o mais afetuoso e divertido do mundo. O espírito do Rio é maravilhoso; o dos nossos políticos é que é de porco, com raríssimas exceções”.