A alma russa é duvidosa, impaciente, exagerada. A alma feminina é um enigma: nunca tem certezas, aumenta todos os sentimentos: raiva, amor, tolerância. Exagerada. E as dúvidas: o que vestir, o que comer, o que fazer. A peça “Três Irmãs“, de Tchevov, trata da confusão do feminino no raiar do novo século na aristocracia russa. E se elas fossem para Moscou?, adaptação livre de Cristina Jatahy, centra fogo no impasse das três mulheres sobre que caminho seguir e o lugar onde devem permanecer.
“E se elas fossem para Moscou?” , além disso, mistura teatro e cinema para quebrar essas barreiras. Enquanto a peça se desenvolve num espaço, em outro, uma outra plateia vê em tempo real, edição real, aquilo que se desenrola no “espaço teatral”. As atrizes Isabel Teixeira, Júlia Bernat e Stella Rabello (Olga, Irina e Maria) viram técnicos, pois filmam, ajudam com a movimentação dos objetos. Os técnicos viram atores, fazendo os papéis masculinos.
“É uma peça em que as câmeras fazem parte da dramaturgia, e também é um filme, com vários recursos cinematográficos. Não é teatro filmado”, esclarece Christiane Jatahy. “São dois espaços diferentes entrelaçados. No teatro, filmamos, editamos e mixamos ao vivo o que é visto no cinema. Simultaneamente, as duas artes coexistem; mais que isso, a peça e o filme se completam como obra. E o público escolhe de qual ponto de vista quer ver essa história”, conta Jatahy, que assina adaptação, direção e roteiro do projeto.
A peça tem um nível de interatividade inusitado: como se trata de uma comemoração de aniversário, servem espumante, bolo, salgadinhos. Conversam entre si, incluem tudo o que está a sua volta. E Olga, Irina e Maria vão buscando o sonho da realidade que as aborrece. A plateia se vê filmada; os espectadores do cinema veem uma peça. E não se dissolvem as dúvidas: teatro ou cinema? Ficar ou ir? Viver ou sobreviver? Às vezes, acho a melhor opção comprar um guarda-chuva.