Rock é sempre uma mistura – pedra em inglês, mas, também, dança. Rock é simbolo de protesto, de não, rebeldia. Comportamento diferenciado, revela a individualidade. Dizer não para dizer si. Esse clima dark, pesado, difícil é o que revela o drama musicado “Jim“, de Walter Daguerre, com direção de Paulo de Moraes e interpretação de Eriberto Leão e Renata Guida. Da escuridão da abertura, do corpo em posição fetal em cima de um piano, surge uma luz: João/Jim levanta-se, dirige-se ao microfone e canta “Light My Fire”.
Imediatamente, a necessidade de mais, de algo que nos leve pra frente, que nos desperte, que nos esquente, aparece. Jim é a história de João Mota, um jovem de Brasília, roqueiro em formação, mas, como Jim Morrison, um angustiado de plantão. A peça é baseada na trajetória interior de Jim Morrison, vocalista e poeta maior da banda The doors, como esse vai construindo os pontos de contato com a poética de Jim. João canta, angustia-se, deseja a morte, recria sua própria história, mas todo o tempo vêm os seus momentos de angústia em sincronicidade com o poeta Jim.
“Quando comecei a pesquisar, descobri um Jim Morrison que não imaginava e que muita gente não sabe quem é. Então vimos que precisávamos trazer uma outra ideia do Jim para o público”, revela Daguerre, complementado por Eriberto: “O Jim era, acima de tudo, um poeta”. Essa poética, essa força de expressão, é o que move o relato de João.
Então aparece um anjo, vivido por Renata Guida, que funciona como um alter-ego para João Mota. Leva a refletir sobre o verdadeiro sentido da vida, da poesia e da força que impulsionou Jim Morrison. João canta e canta, questiona-se, desespera-se. Falam da morte de Jim: suicídio, acidente. Não importa. Concluem pela vida: essa, sim, um fogo que está permanentemente aceso. Come on, baby light my fire.