Não foram só os leitores que levaram um susto com o valor anunciado em um site estrangeiro para um apartamento no Cap Ferrat, um dos edifícios mais exclusivos da Praia de Ipanema, como noticiamos aqui. Especialistas em mercado imobiliário também fizeram questionamentos – não a respeito do anúncio, que é bastante claro, mas sobre as circunstâncias do negócio proposto. “Só se o proprietário construiu um palácio dentro, todo em ouro e diamantes, o que é improvável”, comentou Leonardo Schneider, vice-presidente do Secovi-Rio (Sindicato da Habitação), referindo-se aos €20.371.000 (ou R$ 66 milhões) pedidos pelo apartamento de 560 m2 e quatro quartos.
Na avaliação do Secovi-Rio, o valor do metro quadrado de imóveis residenciais em Ipanema varia de R$ 13.167 (o mínimo, para apartamentos de um quarto) a R$ 32.895 (o máximo, para apartamentos de quatro quartos). Alguns edifícios da orla carioca, por serem emblemáticos e terem um padrão diferenciado, podem ter uma avaliação livre, mas não tão exagerada. O aceitável, neste caso, estaria na faixa dos R$ 30 milhões. “Cada um pode pedir o que quer, mas este valor distoa, até colocando em dúvida a credibilidade de quem anuncia”, completa Schneider. Para se ter uma ideia, uma cobertura triplex na mesma Vieira Souto, com 900m2, cinco quartos e seis vagas de garagem, foi colocada à venda por R$ 45 milhões, em um prestigiado site brasileiro dedicado à comercialização de imóveis.
O dirigente do Secovi-Rio faz uma comparação: com os mais de €20 milhões, daria para comprar um imóvel de altíssimo padrão juntinho do Central Park, em Nova York, em frente ao Hyde Park, em Londres, ou em Mônaco. E ainda teria troco. Como se explica, então, o anúncio? Talvez o objetivo seja atrair compradores estrangeiros, que desconhecem a realidade e o histórico do mercado imobiliário carioca.
Não seria nem o caso de colocar a culpa na alardeada bolha imobiliária. Schneider prefere a expressão “valorização do mercado” e esclarece: “Bolha foi expressão usada nos Estados Unidos, em 2008, e no Japão, nos anos 80. A bolha passa a percepção de que (a alta nos preços) é uma questão superficial, que vai estourar. Aqui, do contrário, a valorização já é uma questão enraizada, devido ao aumento na demanda”. Que ninguém espere, no longo prazo, uma liquidação de imóveis; os preços até poderão ter alguma queda, mas estourar mesmo, só a cara-de-pau de quem insiste em especular.