Carlos Tufvesson certamente mudou alguma coisa no comportamento de muitos cariocas, mesmo antes de estar à frente da Coordenadoria Especial da Diversidade Sexual, órgão criado pela Prefeitura carioca para combater a discriminação. Ativista-gay-incansável, sempre falou o que pensa, assim, na cara de qualquer um, razão pela qual foi chamado para ocupar esse cargo, em 2011. Nesse nosso Rio, chamada de cidade cosmopolita, existe muito preconceito: “Minha ideia fixa é viver numa sociedade onde os direitos de todos sejam igualmente respeitados”, diz, sem medo de parecer utópico. Morando com o arquiteto André Piva há 17 anos, virou uma espécie de porta-voz do movimento LGBT no Rio, e até ganhou a Medalha Tiradentes, pela Assembleia Legislativa do Estado. Filho da estilista Glorinha Pires Rebello, que, nos anos 80, comandou a marca Maison d’Elas, Tufvesson tem em sua mãe um exemplo e, segundo ele, ela é “a rainha gay da década”. Sempre com seu apoio, foi tranquilo ir para a Itália estudar na Domus Academy, em Milão. Em 1995, voltou ao Brasil e criou modelos esportivos até entrar na alta-costura, só meio que deixando de lado para ser um militante – essa palavra está cansada; ele, ao contrário, nem um pouco. Continua com o mesmo gás de quando “casou” no MAM, numa festa clássica, onde até o convite era tradicional, transformando tudo numa manifestação ideológica, no fundo, no fundo. Finalmente, esta semana, Tufvesson deu entrada no pedido de conversão de união estável em casamento, depois de ter sido negado por um juiz.
UMA LOUCURA: “Loucura é entender que estamos amedrontados. Isso é um novo fascismo? Loucura é uma maneira de impor aos outros regras da vida de cada um, por exemplo, eu, como católico, posso não comer peixe na Sexta-Feira Santa, mas outra coisa é querer que isso vire lei e que todos pensem igual a mim. Se a Bíblia diz que a união de dois homens é pecado, é pecado para quem segue a Bíblia. Mas é preciso pensar em políticas públicas, tem que pensar pra todas as religiões. Loucura é essa intolerância que acontece atualmente, e que nunca houve. Cresceu seis vezes a intolerância religiosa.”
UMA ROUBADA: “A maior roubada é o fanatismo religioso ou o político. É tudo feito do mesmo barro – todos se acham superiores aos que são diferentes deles. No fundo, igualam-se. Os fanáticos deveriam ficar enchendo o saco um do outro.”
UMA IDEIA FIXA: “Minha ideia fixa é viver numa sociedade onde os direitos de todos sejam igualmente respeitados. Sei que é uma resposta de miss, mas a vida é dedicada a isso.”
UM PORRE: “O maior porre do mundo é aturar bêbado e criança mal-educada; não sei o que é pior.”
UMA FRUSTRAÇÃO: “A minha maior frustração é minha avó não ter me visto casado; ela queria muito isso. Agora, estou dando entrada nos papéis, depois dessa norma do CNJ. Quando eu e André nos casamos no MAM, já era um direito assegurado pelo Supremo. Meus direitos civis foram cerceados. Esse foi um dano irreparável que o juiz causou a mim e a minha família. Estamos casados de fato, mas não de direito.”
UM APAGÃO: “Ver pessoas que se julgam no direito de achar que o outro não deva ter direitos como ela tem. É uma total ausência de simancol.”
UMA SÍNDROME: “Sofro da síndrome do iPhone – sou viciado em redes sociais.”
UM MEDO: “Tenho medo da traição, não da traição tipo marido que trai mulher. Em geral, temo a traição no sentido de lealdade, fidelidade, principalmente de amigos.”
UM DEFEITO: “Sou compulsivo em tudo que faço. Não entro em nada de leve, só sei ir fundo. Quantas duplas interpretações isso pode dar não sei. Sou intenso.”
UM DESPRAZER: “Desprazer é ver esse populismo fascista e barato no nosso país, neste país que lutou tanto pela democracia.”
UM INSUCESSO: “Graças a Deus, me considero abençoado. O Brasil é o país onde mais se mata por crime homofóbico. É um retrocesso inaceitável pra minha geração. Antigamente, os subversivos eram torturados nos porões do DOPS; atualmente, cidadãos LGBT são torturados na rua – sem nenhum sinal por parte do Estado de que essa impunidade vá ter um fim.”
UM IMPULSO: “A palavra impulso é tudo na minha vida.”
UMA PARANOIA: “Minha paranoia é lidar com a minha incapacidade; já apareceu várias vezes na minha vida. Quando eu não sei fazer alguma coisa, é um drama pra mim.”