Há no Brasil uma onda de musicais. A grande maioria é a importação dos modelos da Broadway e diferentemente dos americanos que fazem teatro musical desde o jardim da infância, a maioria dos nossos artistas não conseguem atingir a proficiência em cantar, dançar e atuar. Há, algumas vezes, verdadeiras epifanias em encontrar , em um espetáculos, talentosos que nos presenteiam com todas as habilidades de um verdadeiro musical. É o que acontece com “Ismael Silva: Professor Samba”.
Entra-se na arena e já se percebe no cenário uma ótima reconstituição minimalista dos botequins, o verdadeiro berço da roda de samba. E aí, chegam os 3 atores: Édio Nunes, Milton Filho e Jorge Maia, transmutados em malandros imaginários atemporais pelos criativos figurinos de Wanderley Gomes, também autor do cenário.
A dramaturgia de Ana Velloso e Édio Nunes vai além de uma narrativa biográfica de um dos fundadores do samba, o ritmo mais brasileiro: o batuque, as dores de amor, a crônica do cotidiano. O que se fala é gênese da cidade partida: o surgimento das favelas. A luta pelo dia a dia, vida difícil de trabalho das mulheres, a exclusão social.
É uma cascata de emoções, com as primorosas atuações de Édio, Jorge e Milton que giram no papel de Ismael Silva e dos personagens que o circundam. A trilha, por óbvio, é maravilhosa pois os sambas de Ismael são canções imortais.
A platéia bate palmas, dança, canta baixinho. E para confirmar que Ismael foi o criador de escola de samba, a solução do final é um acerto. Puxa-se Bumbum, Paticumbum, Prugurundum, convida-se a platéia todos viramos cabrochas, bateria, passistas, baiana. Sai-se com a alma lavada de alegria e com a certeza que o grande valor da cultura brasileira, o samba, é muito maior, e melhor, a prova cabal que Gilberto Gil é um profeta: Só ponho bebop no meu samba, quando o tio Sam pegar no tamborim. Salve o samba sempre!
Serviço:
Teatro de Arena do Sesc Copacabana
Quinta a domingo, às 20h