Os atores Ricardo Boaretto, Jhonatas Narciso e Luize Mendes /Foto: Renato Mangolin
Aprendemos, desde sempre, que o teatro tem três regras básicas para facilitar a compreensão da plateia. A primeira é a unidade de lugar – toda a ação se passa em um único local; a segunda é unidade de tempo – o tempo da peça pode ser o tempo da ação; o terceiro é a verossimilhança, se a história existe. Seria exatamente assim. “Língua” é uma peça que cumpre essas três regras, o que, por si só, já seria ótimo em tempos de teatro-libelo. No entanto, vai além: centra a questão da falta de comunicação em uma trama que se passa no aniversário de um jovem surdo. Parece simples, mas é muito engenhoso e eficiente ao matar dois coelhos com uma só cajadada.
Assinada por Pedro Emanuel e Vinicius Arneiro, com interlocução de Catherine Moreira, a dramaturgia foi criada em sala de ensaio com o elenco, que reúne Erika Rettl, Filipe Codeço, Jhonatas Narciso, Luize Mendes Dias e Ricardo Boaretto, a partir de situações que contemplam laços familiares e de amizade. O espetáculo, com atuação de boa qualidade de todo o grupo, traduz os sentimentos mais básicos — paixões e desejos pelo amigo — até a amplitude de toda a história girar em torno de um personagem surdo e de como seus próximos se comunicam com ele e entre si na pequena comemoração. Há que destacar Luize com sua personagem Julieta (nomeação inteligente na ironia) e Ricardo, o Matias, personagem principal.
Cada detalhe, cada pequeno diálogo, cada música, cada acontecimento se entrelaçam de forma harmônica para ter o foco em uma proposta de significação clara e cristalina desde a abertura. Pessoas estão distantes, incapazes de falar a mesma língua, ainda que no mesmo ambiente — surdos o tempo todo ao que o outro é, ao que o outro deseja, ama. “Língua” é mais do que uma proposta. Sem defender causas, sem estatísticas, é capaz de transformar a ida ao Sesc em algo raro: aquela conversa pós, em que se continua falando e refletindo o que se viu. Essa é a quarta regra do bom teatro.
Serviço:
Sesc Copacabana/Mezanino (Rua Domingos Ferreira, 160)
Telefone: (21) 2547-0156
Dias e horários: quinta a domingo, às 20h30