“O ponto médio entre a arrogância e a humildade”: assim se define a apresentadora Rita de Cássia Batista dos Santos no “É de Casa” (TV Globo) e no coração de muita gente, a nova integrante do “Saia Justa”, no GNT, com Gabriela Priolli e Bela Gil.
Rita jamais passa aquela devo-fazer-ou-não-devo-fazer — ela faz. Maio, por exemplo, foi mês de vaivém intenso para essa jornalista de 45 anos recém-completados (22 de maio, dia de Santa Rita de Cássia), mas não só de gravações: lançou seu primeiro livro, “A Vida é um Presente” (Planeta), antes, na Bahia, onde nasceu, depois São Paulo, sua segunda casa, e, por fim, no Rio. Ela mora em Salvador, mas viaja semanalmente entre a capital baiana, Rio e SP, de onde os programas serão transmitidos.
São 111 mantras para expandir a consciência e abrir caminhos para dinheiro, relacionamentos e prosperidade. O que alguém pode querer mais? Rsrsrsrsrs. As palavras positivas, o tom de voz macio com sotaque, um “ôxe” aqui, um “massa” acolá, indo além de uma característica soteropolitana. A firmeza ali parece além do colágeno intenso da pele preta; tem tatuado no ombro esquerdo “Minha fé é meu jogo de cintura” (da música “Cristo e Oxalá”, de O Rappa).
Os mantras fazem parte do seu cotidiano desde 2005. Ela nunca os manteve internamente e faz questão de compartilhar em seu perfil no Instagram (com quase 460 mil seguidores), enviar a amigos por WhatsApp, até virar o podcast “Tudo Odara.
“Acho que, em cada palavra, cada fonema, cada sílaba, a gente imprime verdadeiramente o que queremos no firmamento no Universo. A vida é um boomerang, minha gente, não tem como plantar um morango e esperar que saiam maçãs”, diz, como que criando uma energia circundante em volta de si.
O conteúdo reflexivo e otimista chamou atenção da Editora Planeta, e, como ela diz, “por pura pressão dos seguidores”, compilou e publicou.
No “É de Casa”, com Maria Beltrão, Thiago Oliveira e Talitha Morete, ela fica quase 5 horas todos os sábados no comando do programa, há quase dois anos, e diz que sua função ali é “falar verdades e coisas que não são ditas”.
1 – De onde veio a ideia do livro?
Da mais pura pressão dos meus seguidores, das pessoas que ouviam o meu podcast e me seguem nas redes, porque não bastava eu colocar um mantra, legendar o vídeo ou colocar a legenda no post do feed. Eles queriam um livrinho. Muitos, inclusive, têm seus livrinhos particulares, e aí ficavam me perguntando que dia eu escreveria um. Nunca pensei em escrever um livro, mas, no final de 2022, início de 2023, a editora Planeta, seguindo esse clamor astral, propôs; porque o público pedia a mim, mas eu falava: como é que eu vou escrever um livro? Foi a editora que deu a ideia de reunir esses mantras que eu mais falava, e eis que “A vida é um presente” se materializou. O sonho divulgado da gente se tornou realidade. E agora é o meu também.
2 – Quando você começou o interesse pelos mantras, expansão da consciência, e em que nível pode dizer que está… Como foi esse percurso até aqui?
Três pessoas são primordiais para esse meu conhecimento em mantra e expansão de consciência; espiritualidade ampla, não só ligada a uma religião. Por ordem cronológica de entrada na minha vida, a Sonia Matos, que me ensinou sobre os deuses indianos, sobre a espiritualidade indiana, sobre o “Om” (mantra mais importante do hinduísmo e outras religiões), sobre Ganesha, Krishna e como os indianos lidam com tudo isso, aquele país de contornos e dimensões tão diversas, mas amalgamados na crença, mesmo sendo crenças diferentes, mas que estão completamente ligados à espiritualidade. Depois o Deo Carvalho (cabeleireiro e terapeuta holístico baiano), um amigo querido que me contou sobre os mestres ascensionados da Fraternidade Branca e os mais variados papéis que eles desempenham (seres de luz que oferecem sabedoria e orientação para aqueles que buscam a evolução espiritual). E assim começou a minha intimidade com o Chohan do Sétimo Raio, que é associado ao mestre Saint Germain, o dono do sábado, da cor violeta, dono da transmutação, da chama. A partir disso, tive um encontro muito feliz, em 2019, com a Heloísa Simão, que me falou sobre a prosperidade e a abundância, sobre um ponto de vista que nunca tinha me ligado, que é o ponto de vista espiritual. Então, eu tenho esses três mentores, essas três escolas que me nortearam. E eu tenho 21 anos de santo, né? Como fiel de candomblé. Mas sou também da Sukyo Mahikari, que é uma prática espiritualista japonesa (que significa “luz da verdade”). A cada pessoa que me encontra, que tem uma religião, vem um ensinamento. E aí eu percebo verdadeiramente, assim, dentro de mim, que tem uma centelha divina, que cada um dá um nome, e às vezes nem nome tem, e que flameja. E é isso que eu alimento. É esse calor, esse fogo divino que eu alimento e compartilho. Faço com que mais e mais pessoas descubram dentro de si.
3 – Você se descreve como “o ponto médio entre a arrogância e a humildade”…. É possível?
É superpossível. Eu sou exatamente isso. Fui criada pela minha avó materna, que dizia que quem se abaixa demais, o fundo aparece. Então, eu não estou pra briga, mas também, se ela acontecer, eu tenho as minhas ferramentas, que são do debate e da argumentação. Outra coisa que aprendi em casa também, que é a pedagogia do constrangimento: antes que alguém a constranja, constranja primeiro. Funciona que é uma beleza.
4 – A vida de um jornalista ativo, sabemos, é muito doida. Os mantras e as suas atitudes positivas ajudaram a se manter sã? A repetição ajuda na sobrecarga?
Essa espiritualidade que eu exerço é cotidiana e ativa, faz parte do dia a dia das pessoas e do meu dia a dia. Tem um momento de parar, de contemplar, de limpar a memória, como eu geralmente digo, mas eu não desassocio uma coisa da outra. Dentro do meu cotidiano, dentro das horas, eu tô ‘mantrando’, por exemplo, a cada primeiro sábado do mês, eu rezo o Salmo 23 por 108 vezes. É o dia inteiro rezando, fazendo coisas. Ahh, não tem que parar pra concentrar? E se não der pra parar? Vamos falar aqui da vida do brasileiro médio. O exercício de fé se adapta às atividades laborativas, domésticas, é verdadeiramente um estado de espírito. Quando você tem a possibilidade, sim, mas a maioria das pessoas não tem de parar para fazer isso, até porque você é a mesma pessoa o tempo inteiro. Você não vira uma pessoa megapower espiritualizada às 5 da manhã e às 7 você já tá mandando todo mundo tomar banho. Pelo menos, não deveria ser assim. Então, a minha atividade laborativa, o meu ofício, ele não atrapalha a minha espiritualidade ativa, nem vice-versa.
5 – Quais os seus mantras prediletos?
Pra mim, o mantra da minha vida é “eu sou corajosa, destemida e forte, sou alegre, expansiva e cheia de vida, tudo me corre bem. Eu sou um ímã para atrair tudo que é de bom e útil, eu gozo da mais perfeita saúde”. E o mantra que é a percepção de quem eu sou, que eu intitulei como o mantra da autoestima, que surgiu pra dar uma resposta a uma pessoa sobre mim e corrobora a definição “eu sou o ponto médio entre a humildade e a arrogância”, diz assim: eu sou a melhor coisa que pode acontecer na vida de qualquer pessoa e/ou corporação. Faça isso.
6 – No seu cotidiano, qual o retorno das pessoas?
É muito bom. De vez em quando, eu faço print e coloco pra que outras pessoas se estimulem também. Eu só sou um veículo, minha gente, sabe? Porque o divino mesmo está dentro da gente, e você dá o nome que você quiser. É só preciso se lembrar disso, despertar pra isso. E eu estou aqui buzinando no ouvido, na cabeça, na mente, nos corações das pessoas, dizendo que é possível! É possível, independente da fé que você professe, independente da religião que você tenha ou até não tenha. Conecte-se com o que você acha de especial e de divino, o que você entende sobre esse sopro de vida. A vida é verdadeiramente um presente. Acordar e ter uma chance de fazer de novo e melhor. É uma dádiva. Quando a gente entende isso, as coisas ficam mais fáceis — os problemas, obviamente, a depender de quais problemas, mas eles se minoram. As agrurinhas, os aborrecimentos do cotidiano, eles se diluem. É importante isto: manter um pensamento blindado, uma energia positiva, mesmo diante da diversidade. Cria escudos. As coisas não deixam de acontecer, porque a vida não é o que acontece com a gente, e sim o que a gente faz com as coisas que acontecem com a gente.
7 – Você chegou a SP no auge da pandemia (2020). Como foi a sua adaptação numa grande emissora, o que mudou na sua vida desde então, teve que intensificar os mantras?
Eu cheguei a São Paulo pela segunda vez, em 2020. A cidade sempre me abraçou; gosto dessa praticidade, dessa rapidez, dessa eficiência, de encontrar gente de todo lugar do mundo, todo lugar do país. Sempre fui muito feliz em São Paulo. E tenho esse privilégio. Na pandemia, estava tudo estranho, a gente nunca tinha lidado com uma situação como aquela e estava nas adaptações. Os EPIs todos, a máscara, as equipes reduzidas, as novas possibilidades, a tecnologia nos ajudando a encurtar essas distâncias com as nossas fontes, o novo modelo televisivo, principalmente, que é usado até hoje. Então criamos novos recursos estilísticos, essas narrativas que foram abraçadas pelo público e que rapidamente foram absorvidas nesse novo modelo de produção. Então, foi muito bom. E entendendo a magnitude da TV Globo, que eu já sabia como profissional, obviamente, e também como telespectadora, mas você ser a roldana da engrenagem é outra coisa.
8 – Além dos mantras, o que mais você faz para manter a saúde física e mental?
Eu faço atividade física, não abro mão, e terapia. É claro que eu estou falando de um lugar de privilégio, sentadinha aqui nos meus privilégios. Eu sei que boa parte dos brasileiros não tem tempo, nem disposição de recursos, tanto pra uma coisa como pra outra. Mas se as pessoas puderem, aquelas que podem fazer, façam. Eu acho que, em menor grau, estar com as pessoas que nós amamos e que nos amam, observar e ter mais contato com a natureza, pode ser na praça da sua cidade. É preciso entender que a gente faz parte da natureza, que somos integrantes da natureza. A gente não pode achar que se fechando numa sala 24 horas por dia, a gente não vai adoecer tanto o espírito quanto o corpo. E comer direito, ter acesso à saúde de qualidade. O Brasil, de uma maneira geral, adoece a sua população porque não dá essa chance às pessoas. E é por isso que a fé do brasileiro, as religiões que compõem esse Estado laico, são tão fortes, são tantas as manifestações nesse Brasil profundo, de mais de 5.500 municípios, esse Brasil que a gente ainda nem tem acesso, porque a gente não pode estar nesses lugares, mas que tem essa cultura tão rica, essa religiosidade tão própria… Isso é que faz com que as pessoas se sintam bem também. Somos um país de muitas manifestações religiosas e espirituais e que cumprem muitas das nossas carências.
9 – Agora a novidade é que você integra o Saia Justa, no GNT. O que pretende levar pra lá, ao lado de Gabriela Prioli e Bela Gil. Como você definiria essa “nova bancada”?
A minha autenticidade é o meu pertencimento. Acho que uma marca minha é o repertório. Se tem uma coisa que eu sei que eu tenho é o repertório; aquilo que eu não sei, eu busco saber. E eu sou adequada, o que não significa estar em cima do muro. A minha adequação não desabona o meu argumento. Com a maturidade, busco sempre o caminho do meio. Eu sei quais são as lutas que eu vou escolher lutar. Eu sei quais são as brigas, as discussões em que eu vou me meter, mas isso não significa que eu estou em cima do muro. Eu só escolho melhor as minhas armas para que o duelo seja profícuo. Esse negócio de autenticidade, tu tá falando com a pessoa mais autêntica, uma mulher de 45 anos que não pinta cabelo, tem essa cara virgem, sabe? Uma mulher preta, mãe, cujo filho mora com o pai (Martim, de 6 anos, do relacionamento com o terapeuta tântrico Marcel Suzart, que terminou em 2021), que pra mim é a coisa mais normal no mundo, mas contrariando os regramentos sociais do Brasil. Fui duramente criticada por isso, porque recebi um convite pra vir pra maior emissora do país, a segunda maior do mundo. Então eu já reúno aqui alguns predicados pra essa autenticidade que você está buscando. Não me comparando a ninguém, obviamente, porque cada pessoa tem o seu talento, seu brilho. E essa coisa de comparar as pessoas, ainda mais quando a gente tá falando de personalidade, de persona, de performance argumentativa ou fazer artístico, não acho bom, não.
10 – Em quais apresentadoras, jornalistas, artistas você se inspirou?
Ah, inspiração eu gosto! Inspiração eu tenho um monte: Glória Maria, Viola Davis, Wanda Chase, Lívia Calmon, Oprah Winfrey, Thaís Araújo, Gaby Amarantos, Zezé Motta, Léa Garcia… Eita! Tem a gente: Dona Ivone Lara, Alcione, Leci Brandão…É muita gente, vou ficar aqui a tarde toda.