“Prima Facie”, em Direito, quer dizer uma prova que é suficiente para permitir a suposição ou consolidação de um fato, a menos que seja refutada. “Prima Facie”, escrita por Suzie Miller, estreou na Griffin Theatre Company de Sydney em 2019. O solo conta o conflito de uma advogada que defendia agressores sexuais e tenta obter justiça por seu próprio estupro. O sucesso foi absoluto nos templos de West End e Broadway, com Jodie Comer, a atriz da bem-sucedida série Killing Eve, que vence Tony e Olivier, os dois importantes prêmios.
A versão brasileira, dirigida por Yara de Novaes e estrelada por Débora Falabella, é capaz de, durante 100 minutos, deixar a plateia totalmente atenta para que não se perca nada da poderosa e vital atuação de Débora. O trajeto da transformação de uma mulher jovem, bem-sucedida, que consegue ascender, em uma sociedade classista, a vítima desamparada desses próprios valores é construída, milimetricamente, com as palavras corretas.
É uma peça de mulheres, em torno de um fato: o estupro que aflige uma mulher a cada 8 minutos no Brasil. Além disso, o cenário deslumbrante trabalha para diminuir a posição da mulher, abafá-la e evidenciar como deve ser excluída. Ao cenário de André Cortez, cujas cadeiras/mesas se sobrepõem para mostrar quem é o superior, quem é o inferior, junta-se a significativa trilha sonora de Morris, que transforma o palco em uma jaula onde Tess, a advogada fica limitada.
A direção de Yara Novaes cria um procedimento interessante, também utilizado em Lady Tempestade, com Andreia Beltrão: a mudança do sapato muda o papel social/pessoal da personagem. Débora/Tessa é a destemida advogada com uma reluzente bota prateada. É uma mulher humilhada com um sapato/tênis preto sem salto .
Em cena forte, Débora está fraca, humilhada, destemida. É a metonímia perfeita de homens, mulheres, crianças de todos os gêneros e raças que acreditam no canto da sereia de uma sociedade justa e igualitária. E percebem, quando sentem a necessidade, que a única coisa que conta é a forte e inabalável estrutura de poder.
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Foto: Jorge Bispo
Serviço:
Teatro Adolpho Bloch Glória (Rua do Russel, 804)
Quintas a sábados, às 20h
Domingos, às 18h