Arthur Rimbaud, o jovem poeta francês que, aos 17 anos, escreveu a obra prima “Uma temporada no inferno”. Seu poema/prosa, até hoje, desperta a total revolução interna que abusa da alma dos artistas. “Raul Seixas”, o espetáculo estrelado (ao pé da letra) pelo talentoso criativo e premiado Bruce Gomlevsky, é de absoluta fidelidade à alma do músico.
Além das canções a que, claro, o público faz coro, a peça tem dois enormes acertos em relação à explosão de musicais “biográficos”. O primeiro é a atuação de Bruce, que foge da caricatura fácil de Raulzito (como Raul Seixas era chamado). O que vemos é uma performance emocionada, com levíssima prosódia da Bahia, ao trazer os pensamentos, as divagações, a produção de um homem angustiado desde sempre. Um sujeito dividido entre a cultura nordestina e as influências do rock; entre ser enquadrado na sociedade e um ser que vive à margem; entre as benesses do sucesso e a necessidade de recolhimento.
O segundo aspecto é a maneira como Leonardo da Selva constrói e conduz o roteiro da peça. O que se tem visto são musicais em que as músicas são desfiadas com textos de permeio, um concerto com texto. Aqui, a dramaturgia é potente em todos os seus aspectos. É a demonstração da jornada de Raul, com as suas ligações com suas raízes, com a Bahia, com a criação. Há rock, mas há capoeira. Há maluco beleza, mas há o maravilhoso baianês de abusar, que é chatear. Há de um tudo, sobretudo nos textos de Raul que Leonardo da Selva inclui de forma inteligente — um amálgama que nos faz perceber muito além de uma metamorfose ambulante.
Fotos: Dalton Valerio
Serviço:
Teatro EcoVilla Ri Happy, Jardim Botânico
Sexta e sábado, às 20h
Domingo, às 19h