“Claustrofobia” é medo do claustro, conjunto da galeria e do pátio ou parte do mosteiro, uma residência reclusa. Pois é, apesar de a definição corrente ser a de que claustrofobia seja medo de ficar trancado em um ambiente pequeno, podemos pensar na metáfora do seu sentido – um pavor de se ver em uma situação da qual não se pode sair. “Claustrofobia”, o solo escrito por Rogério Corrêa, com Márcio Vito, transforma o medo nos maiores pavores da contemporaneidade.
Com a direção milimétrica de César Augusto, Márcio Vito interpreta três personagens: um ascensorista-imigrante- nordestino-invisível, a jovem executiva-bem-vestida- pilhadinha-implacável e o porteiro, contador-de-vantagens- fanfarrão, com o sonho de ser policial, a promessa mentirosa de um viés do Brasil atual.
Com Márcio, os personagens ganham corpo, voz, personalidade, contornos de conflitos em diálogos totalmente esquizofrênicos porque, mesmo com a presença de interlocutores, a pessoa fala para si mesma, na solidão do celular. O porteiro se sente um policial, seu sonho; a executiva sê vê com mais poder do que tem; os ascensoristas, de César Augusto e Beli Araujo, simulam um elevador, um cubo sem paredes, imerso na negritude do palco. Uma enorme instalação evidencia que as artes do palco vão além de um ator que fala um texto, dignas de ser vistas em um ambiente de arena. “Claustrofobia” indica que o ator é um performer de humor mordaz, daquele típico dos ingleses, posto que o autor se divide entre Inglaterra e Brasil.
César, Rogério e Márcio Vito transformam em dois níveis a peça. São três personagens que, ao mesmo tempo, apresentam aquilo que é triste no humano e insuportável em nossa atual sociedade: a invisibilidade do sujeito e da alma; a ambição do Capitalismo e a cretinice do comportamento e o sonho de crescer inalcançável, mas enquadrando no que há de pior, a repressão autorizada. E estamos todos sem escolha, encerrados, sem saída, em algum elevador.
Serviço:
CCBB, no Centro
De quinta a sábado, às 19h
Domingo, às 18h.