Em todos os grupos sociais, há um conjunto de histórias e mitos que relacionam a vida dos humanos aos fenômenos da natureza — sol, lua, chuva, dia e noite não se explicam pelas ciências. O que se vê, sempre, é como a natureza é parceira ou não, muitas vezes em papéis como pai, mãe, filho, amante. “À Beira do Sol” é um canto, uma elegia, o percurso do herói, no caso heroína, de como vencer o sol para manter a vida.
“À Beira do Sol”, peça infanto-juvenil por trazer elementos lúdicos, de muitos diálogos com o jeito daqueles das crianças, é, na verdade, uma pequena odisseia, dividida claramente nos chamados cantos — episódios com uma história em si —, com direção e dramaturgia de Naira Carneiro (Cia. Os Buriti) e Duda Rios (Cia. Barca dos Corações Partidos). A música é introduzida como elemento de reforço ao lindo texto.
Naria interpreta Arian, a Vigia do Sol, cuja missão é impedir que o sol desapareça, pois o que está em jogo é a luz versus a escuridão — a linda metáfora de múltiplos significados, pois ter a luz vai desde nascer até a envolvente claridade, a vida e a escuridão da obscuridade, da morte. A canoa nos remete ao mito de Hades, quando os mortos chegam às trevas, pois consegue transformar texto em música, música em poesia, teatro em pura beleza. Todos esses elementos estão na peça. Duda e Naria são verdadeiros arautos da cultura brasileira e de como podem ser misturados os valores dos povos originários, das artes nordestinas, das pessoas em contato com seus afetos.
Serviço:
Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB)
Sextas, às 19h. Sábados e domingos às 16h