Surgidos ao final do século XIX, marca da Berlim do entre guerras, tema de filme, genérico de algo misterioso, os cabarés artísticos, desde sempre, foram locais de experimentação dentro da total mistura e laboratórios de criação compartilhados, agregando artistas de diferentes áreas — artes cênicas, dança, circo, arte da performance, música, literatura, artes visuais, dentre outras. Abrigaram as vanguardas artísticas, sendo a origem de um novo conceito de performance e de uma nova linguagem híbrida e eclética.
Por outro lado, há o burlesco, cujo centro é burlar os corpos, se exibir, se mascarar em fantasias. A representação não tem espaço determinado — bares, casas noturnas, cafés, circos, teatros, escolas, centros culturais, festivais e outros tantos lugares e eventos, desde que se ofereça alguma bebida, nem que seja de “mentirinha”. O “Cabaré Coragem”, do Grupo Galpão, começa com a intervenção da plateia, oferecendo cachaça ou conhaque, com Teuda Bara, a maior estrela do grupo, sentada à beira do palco, como uma grande madame comandante.
O que se presencia, durante anos, é a total competência do Grupo Galpão em inventar e mostrar que teatro é, na sua essência, arte performática que se assenta no talento, na criatividade e na capacidade de representar, tocando diferentes instrumentos, em números de malabarismo e canto. Assim, no elenco equilibrado, formado por 12 integrantes, Antonio Edson, Arildo de Barros, Beto Franco, Chico Pelúcio, Eduardo Moreira, Fernanda Vianna, Inês Peixoto, Júlio Maciel, Lydia del Picchia, Paulo André, Simone Ordones e Teuda Bara, todos fazem de tudo um pouco e, de cada pouco reunido, vira muito.
Paródia da vida, o estilo entre o debochado e o escracho nos mostra que, nos figurinos que apresentam um desejo de luxo em sua decadência, com os trechos de Brecht, o apelo à Mãe Coragem é o mesmo sentimento de não ter se conformado nos tempos difíceis e na volta triunfal a que podemos assistir.
Serviço:
Teatro Rival (Rua Álvaro Alvim, 33, Cinelândia)
Até domingo (10/12), sexta e sábado, às 19h30, e domingo, às 19h30.
